Educação de jovens e adultos no contexto nacional e regional - 8

E aí lhes coloco a seguinte pergunta: pode o Brasil resolver esta questão?

O nosso país é pobre,o que significa que não tem dinheiro, se diria. Como não, se é a 10ª economia capitalista do mundo?

Sim, o Brasil pode resolver esta questão; vou apresentar alguns dados, alguns números.Só no primeiro bimestre deste ano, com a súbita desvalorização da nossa moeda, dois bancos de investimentos (sem envolvimento na produção e voltados para a especulação financeira) receberam um auxílio do governo federal da ordem de R$ 1,5 bilhão!  Esse recurso público desapareceu, sem retorno, em uma só tacada.

Vamos fazer uma conta simples para saber se tem dinheiro no país ou não. É assim: uma escola de ensino fundamental com dez salas de aula custa, em média, um milhão de reais; se colocada para funcionar em três turnos, teríamos o equivalente a trinta turmas, e, com uma média com 35 alunos em cada classe, seriam aproximada­mente 1.050 alunos só em uma escola.  Portanto, com um bilhão e meio de reais se construiriam 1.500 escolas de ensino fundamental e se colocariam um milhão, quinhentos e setenta e cinco mil (1575000) alunos para estudar, que aliás é o número de crianças fora da Escola, segundo contas do governo, embora o número seja bem maior.Outra conta: o Fundão (Fundo de Desenvolvimento para Ensino Fundamental/Fundef), que, segundo o governo destina anualmente a cada município a quantia de R$ 314,00 por criança matriculada.  Nesse caso, bastaria eu pegar este um bilhão e meio de reais que foi embora, neste novo escândalo do Banco Central e dividi-lo, segundo as contas do governo por estes R$ 314,00.  Daria para sustentar cerca 5 milhões (4.777.070) de crianças por ano.  Cinco milhões de alunos! Se usasse este cálculo para a educação de adultos, com estes reais que desapareceram, em um ano seriam alfabetizados 5 milhões de pessoas!

O MOVA ABC quer eliminar o analfabetismo de adultos da região até o ano 2000. É um projeto difícil, complicado e ambicioso, porque não será fácil colocá-lo em prática a curto prazo, mas não se pode perder de vista este grande objetivo.  Com este dinheiro que sumiu do Banco Central, o governo teria eliminado o analfabetismo de toda a grande São Paulo.  Seriam um milhão e meio de pessoas alfabetizadas na região mais rica do país, e, ainda sobraria.

As elites brasileiras que atuam, também, na especulação financeira não se descuidam de seus próprios interesses (fazendo-os, inclusive parecerem interesses de todos).Outro exemplo disso?  A Constituição Federal de 1988 estabeleceu no artigo 60 das Disposições Transitórias que o país teria um prazo de dez anos, a partir da promulgação da lei, para universalizar o ensino fundamental (colocar todas as crianças de 7 a 14 anos na escola) e eliminar o analfabetismo adulto.

Quando fez dez anos nossa Constituição,  em 1998,  qual foi a Providência tomada pelo governo federal e as elites do Brasil?  

Em 1997 foi votada no Congresso uma emenda constitucional que prorrogou o prazo por mais dez anos.  Em vez de "levantarem a ponte, abaixaram o rio".  A saída foi, em vez de fazerem a alfabetização, esticarem o prazo.  

 

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