Educação de jovens e adultos no contexto nacional e regional

6

No fim do século XX, o Brasil tem 62 milhões de humanos e humanas analfabetos, acima de 10 anos de idade, que constroem a 10ª riqueza do planeta e a ela não têm acesso, nem se sentem dela proprietários.

Passei por uma experiência pessoal em São Paulo, em uma das discussões que coordenei do Orçamento Participativo que se fez na gestão pública da qual fui membro.  Foi no Teatro Municipal, um dos mais bonitos do mundo, com obras de arte maravilhosas, projetado pelo grande arquiteto Ramos de Azevedo.  Quem participaria da reunião?  O povo dos cortiços que mora na área central da capital paulista, na Sé.

Imaginem a cena: este povo entrando no teatro devagar, olhando tudo à sua volta, escadas de mármore, paredes e poltronas de veludo e lustres de cristal.  Lotou a platéia.  Um ou outro colocou jornal ou a bolsa no seu assento, mas a maioria não sentava; então, lhes perguntei o porquê da atitude e um participante, com mais coragem, respondeu: "Não sentamos para não sujar a cadeira".

Por que?  O que vem do povo parece sujo?  Cito isto em vários lugares, porque quando se fala de Educação Popular, dá a impressão que é uma coisa de fundo-de-quintal, é uma coisa assim bem simplória, é o vice treco do subtroço.  Por que?  Por que é para o povão?

Dizem alguns:

"Precisamos colocar esse povo na escola; sabem o que acontece se este povo conseguir escola? 

Ele vai se cuidar!  Vai ficar limpinho!  Vai aprender a se comportar e no Teatro Municipal, ele não senta!  Vai pedir licença antes de entrar em qualquer lugar". "O povo não vai espernear se não tiver vaga no hospital!  Não exigirá a vaga dele na Escola Pública, será comportado".

E o que significa para muitos que o povo se comporte? 

Que ele se conforme, que não ultrapasse os seus "limites".

Continua