Pergunta: Você acha que ainda levará muito tempo para mudarmos a escola (as formas de transmissão de conhecimentos) e a conseqüente forma de avaliação? |
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Andrea: "A mudança tem que ser rápida, porque pela primeira vez na história a escola não tem outra alternativa. Não é mais possível continuar neste modelo, sob pena de sermos substituídos definitivamente por outras instâncias de formação. Mesmo o professor, se continuar atuando apenas como um bom transmissor de conteúdos, será substituído por softwares interativos, com maior capacidade de memória, que passem as informações com imagens coloridas, músicas e vídeos divertidos. Precisamos redescobrir o valor do espaço escolar e reinventar a nossa profissão assumindo um novo papel, muito mais importante: de estrategistas do conhecimento e gerenciadores da inteligência coletiva dos grupos que nos são confiados. Nesse trabalho, avaliar não será apenas medir resultados, mas acompanhar e monitorar processos." |
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Pergunta: Essa transição do tradicional para o ideal será radical ou ainda levaremos anos errando na hora da avaliação? |
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Andrea: "O que antigamente se realizava ao longo de alguns anos, hoje se faz em meses; o que demorava meses, às vezes se faz em minutos. Se essa lógica for seguida na escola, a mudança será rápida. Entretanto, a escola tem o ponto positivo de contar com profissionais que não costumam aderir a modismos e preferem sempre a reflexão. Espero que, se demorarmos mais do que o previsto, isso não se deva a resistência ou medos, mas sim ao fato de estarem sendo construídos processos de reflexão-na-ação. Não há mudanças pedagógicas por decreto. É preciso uma “conversão epistemológica”, uma transformação na visão de mundo dos que realizam o trabalho educativo, além de recursos financeiros para preparar os novos ambientes e os novos profissionais." |
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Pergunta: Qual é o principal obstáculo que as escolas e os educadores encontrarão ao tentar efetuar essa mudança? |
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Andrea:
"Vejo
dois grandes obstáculos: o primeiro é a deficiência na formação
docente. O professor sai dos atuais cursos de licenciatura muito
“entrincheirado”, sem saber trabalhar sua disciplina de forma
integrada com as demais, e reproduzindo os modelos de ensino e de avaliação
pelos quais ele mesmo passou. Na escola da cibercultura contaremos com
inusitadas equipes de trabalho: webdesigners, videomakers, técnicos de
informática e comunicadores passam a participar da tarefa pedagógica. O
professor precisa saber dialogar com estas áreas para produzir com elas
os novos materiais didáticos e, principalmente, orientar os alunos para
utilizá-los como recursos na construção do conhecimento. O segundo obstáculo
é o professor se despojar da postura de “todo-poderoso” e aceitar que
ele é co-responsável tanto pelo sucesso como pelo fracasso dos
estudantes. Aí entra o papel das direções, que devem garantir a segurança
para o trabalho deste profissional que tem a consciência de, quando
necessário, rever os seus métodos, norteando a sua ação não mais pelo
programa a cumprir, mas pelo ritmo e a diversidade dos estudantes. Nesse
caso, a sala de aula se torna um campo de pesquisa e de trabalho coletivo;
e o professor, alguém que ensina, mas também aprende." |
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