Por que somos educadores? (continuação)

Um dos ensinamentos do professor Mario Sergio Cortella no primeiro semestre de 2000 na PUC

Simplesmente porque não dá para viver sem amorosidade, e ser professor é tê-la saindo por todos os nossos poros. 

Não há nada mais alentador do que encontrar após alguns anos aquela pessoa que vem em nossa direção e pergunta: “você se lembra de mim?” 

Muitas vezes não nos lembramos, mas ela afirma: “saiba que aquele dia quando você falou aquilo, ou fez aquilo, você marcou a minha vida”. Isto basta para nos realimentar e dar energia para continuar abrindo os caminhos para um  mundo mais justo e humano. 

 Somos professores pela PAIXÃO de acreditar que as pessoas foram feitas para serem felizes e quando vemos que isto não acontece, simplesmente não nos conformamos. 

O verdadeiro professor é feliz só pelo fato das pessoas serem felizes e a sua PAIXÃO é formada de SOM e FÚRIA, é por isto que o professor gosta tanto de falar e fica tão furioso quando alguém fala, ou faz alguma coisa contra os seus alunos.

Engenheiro geralmente não faz isto, porque para a maioria de engenheiros AMOROSIDADE é coisa de "viado" e isto certamente ele não é, talvez aí está uma das explicações de alguns fracassos deste profissional atuando como professor. 

Para um real professor é muito comum e sincero quando ele fala "a minha escola", "meus alunos" e isto seriam formas de distinguir o verdadeiro professor, aquele que tem AMOR em seu olhar e transpira ESPERANÇA 

O verdadeiro professor é INCONFORMADO, pois para ele não pode ser, não deve e não será e aí continua sua luta... 

O nosso trabalho com tal é desafinar o coro dos contentes, já que nada está bom e o verdadeiro professor vive este inconformismo, porém com AMOR no olhar e transpirando ESPERANÇA. 

Para ele sempre sua atuação é insatisfatória e é isto que ele espera que seus alunos sintam no final do curso, o que implica que desejariam que o curso não tivesse acabado e desejariam ter mais... 

Além disto, o verdadeiro professor tem consciência que lida com o futuro, para salientar isto, lembro que quando iniciei minhas atividades como professor em 1976, tinha 23 anos e meus alunos tinham em média 18 anos, em 1986, tinha 33 anos e meus alunos tinham em média 18 anos, hoje  meus alunos continuam tendo em média 18 anos... 

Como professor temos que ter consciência da diferença entre CONFORMAR e CONFORTAR, já que somos eternamente inconformados, porém estamos sempre confortando, devemos nos confortar com homens e mulheres que não desistem... Para nós a desistência de um aluno, implica em estarmos perdendo a amorosidade, a esperança, que são as condições básicas para a nossa atuação docente... 

Quem ama não desiste, se observarmos a vida de um detento condenado a prisão perpétua, notamos que após alguns anos, sua companheira, seus filhos, seu pai... todos o esqueceram, porém no dia de visita quem vemos com a sacola na fila? Sua mãe, pois quem ama não desiste. 

Portanto, o verdadeiro professor sabe que a PAIXÃO e a ESPERANÇA  devem acompanhá-lo a cada dia e aí persistir, já que tem a consciência que sem a persistência o AMOR falece. 

Quando sentirmos que nossas forças estão enfraquecidas, lembremo-nos de Nelson Mandela, ele ficou preso por 27 anos, sendo que 18 deles na solitária, e ele não desistiu, portanto ao olhá-lo, devemos ter a consciência que estamos vendo a ESPERANÇA. 

Para carregar nossas energias, deveríamos transformar as grandes pessoas em verbos:

Eu “Mandelo”

Eu “Paulo Freiro”

Eu “Terezo de Calcutá”

Tu “Mandelas”

Tu “Paulo Freiras”

Tu “Terezas de Calcutá”

Ele “Mandela”

Ele “Paulo Freira”

Ele “Tereza de Calcutá”

Nós “Mandelamos”

Nós “Paulo Freiramos”

Nós “Terezamos de Calcutá”

Vós “Mandelais”

Vós “Paulo Freiras”

Vós “Terezais de Calcutá”

Eles “Mandelam”

Eles “Paulo Freiram”

Eles “Terezam de Calcutá”

 

E aí lutarmos pela educação que fortalece a liberdade, onde todos sabem que: 

  • ESPERANÇA é diferente de esperar,

  • A minha liberdade acaba onde acaba a liberdade do outro. 

O verdadeiro professor tem consciência que a primeira coisa que aprendeu a dizer foi NÃO e é isto que o torna um ser humano, pois só quem sabe dizer NÃO pode aprender a dizer SIM. 

O ter aprendido dizer NÃO nos permite recusar aquilo que parece sem alternativas e criar as alternativas na direção da LIBERDADE, JUSTIÇA e PAZ. 

O verdadeiro professor sabe que tragédia não é morrer, mas sim ver morrer coisas dentro dele estando vivo, por isto ele não desiste nunca e nunca deixa morrer sua AMOROSIDADE e sua ESPERANÇA.  

O verdadeiro professor sabe que estar bem é estar livre de qualquer coisa ruim, ter paz é estar bem e ter justiça e ter paz...

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