Educação de jovens e adultos no contexto nacional e regional |
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De quem foi a culpa? "Dele!
Vagabundo, não estudou, deveria ter estudado.
Nós usamos o melhor método, e ele não aprendeu, porque não quis
estudar". |
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Mentira!
Mentira! O Donizete não
teve o melhor método, usaram o melhor método para outra pessoa, e este,
ao ser usado para alfabetizá-lo, sem ser pensado, se tornou o pior. Sabem, de novo, qual foi a conseqüência? Agora estou aqui neste auditório falando para vocês e vejo o Donizete, lá no fundo, com uma vassoura na mão, espiando esta atividade. Digo a ele: "Donizete, venha sentar-se aqui, você também é cidadão, estamos falando de educação, que interessa a todos, venha participar da aula". É provável que ele me responda: "Não, professor, isto não é para mim, é para gente como vocês; eu sou burro, a professora me chamava de burro, não entra nada na minha cabeça, só sei trabalhar com as mãos. Obrigado!, professor, fico feliz por ter me chamado e quando terminar a palestra o senhor me avise que venho varrer o auditório, que é o que sei fazer bem... |
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Há
milhares e milhares de Donizetes pelo país afora!
São o resultado da ação de elites econômicas predatórias, de
governos safados e inconseqüentes, de pessoas insensíveis.
Mas, nós também os criamos quando não pensamos juntos, não
discutimos e refletimos, não estudamos e melhoramos nossa competência ética
e pedagógica. A
elite é responsável, mas temos uma parcela de culpa, quando não
pensamos no método e no conteúdo utilizados e criamos Donizetes. Por isso este seminário é fundamental para socializar experiências, diminuir nossa margem de erro e aumentar a competência. Não devemos aceitar a situação que está aí, é preciso rejeitar o conformismo.
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Não
basta só dizer que não tem jeito, que tudo está muito difícil, que
"se ficar o bicho come, se correr o bicho pega".
Precisamos romper com o diabólico e produzir o simbólico e
afirmar que "se ficar o bicho come, se correr o bicho pega, mas, se
juntar, o bicho foge!". É por isso que, se nós queremos homenagear Paulo Freire, temos a vida e o sonho. |
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Quando a gente diz "Paulo Freire
vive em nós", e quando eu disse de forma respeitosa, que "Paulo
Freire está no meio de nós", quer dizer o seguinte: Paulo Freire é
uma das pessoas que nos ensinou a dizer não.
Ser humano é ser capaz de dizer não; só
quem sabe dizer não, pode dizer sim.
É a liberdade.
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Aprendemos,
também e principalmente com Paulo Freire, que ser humano é ser capaz de
recusar a ditadura dos fatos; ser humano é ser capaz de dizer Sim quando
um Não se coloca como
impossibilidade; humano é ser capaz de dizer Não quando um Sim se
apresenta como inevitável; ser humano é ser capaz de sonhar, é ser
capaz de Ter utopia. Afinal,
como disse o grande teólogo Leonardo Boff, "é a utopia que impede o
absurdo de tomar conta da História". O
que é que estamos fazendo aqui? Nós,
homens e mulheres que estamos neste seminário, estamos dizendo Não. Não à violência moral, Não à violência física, Não
à extinção da dignidade de homens e mulheres, Não à violência
contra a sacralidade da vida das pessoas.
Estamos aqui dizendo Não ao analfabetismo adulto e, quando nós dizemos Não
ao analfabetismo adulto, estamos dizendo Sim à vida digna coletiva,
Sim à nossa capacidade de recusar aquilo que é o nojo da história, que
é a diminuição da dignidade de qualquer ser vivo.
Quando nós estamos aqui, estamos dizendo Sim
ao MOVA Regional, Sim à nossa capacidade de fazer diferente. |
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