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Docência Universitária - Repensando a Aula Prof.Dr.Marcos T.Masetto INTRODUÇÃO
. Em
geral, nós professores
universitários consumimos grande parte do tempo de nossas atividades em
sala de aula, e, ao menos, teoricamente estamos sempre a nos interrogar
como poderiam ser melhor aproveitadas estas aulas pelos nossos alunos. Ao
mesmo tempo que nos perguntamos , vem à nossa lembrança um conjunto de técnicas
que poderíamos usar, de que ouvimos falar algum dia, mas que não achamos
serem tão importantes quanto o domínio do conteúdo para o exercício da
docência. E ,em geral, nossas preocupações se voltam mais uma vez para
alguma especialização conteudística.. Ao
nos preocuparmos com melhorar a docência , não podemos nos esquecer que
por detrás do modo de lecionar existe um paradigma que precisa ser
explicitado , analisado, discutido afim de que a partir dele possamos
pensar em fazer alterações significativas em nossas aulas. I
- Que paradigma é este? Como ele se manifesta? A
grande preocupação no Ensino Superior
é com o próprio ensino
, no seu sentido mais comum: o professor entra em aula para transmitir aos
alunos informações e experiências consolidadas para ele através de
seus estudos e atividades profissionais , esperando que o aprendiz as
retenha, absorva e reproduza por ocasião dos exames e provas avaliativas. Esta preocupação se apóia em três pilares: - na organização curricular que privilegia disciplinas conteudísticas e técnicas, estanques e fechadas, transmitindo conhecimentos próprios de sua área , nem sempre em consonância perfeita com as necessidades e exigências do profissional que se pretende formar naquele curso; - na constituição de um corpo docente altamente capacitado do ponto de vista profissional, com Mestrado e Doutorado em sua área de conhecimento, mas nem sempre com competência na área pedagógica, pois, o importante para ser professor é dominar com profundidade e atualização os conteúdos que deverão ser transmitidos; -
em uma metodologia, que, em primeiro lugar deve dar conta de um programa a
ser cumprido, em determinado tempo, com a turma toda;
por isso mesmo, uma metodologia que se esgota em 90% das atividades
em aulas expositivas; e a
avaliação se realiza como verificação, em determinados momentos, da
apreensão ou não dos conteúdos ou práticas esperados.
Neste paradigma, o sujeito do processo é o professor , uma vez que
ele ocupa o centro das atividades e das diferentes ações: é ele quem
transmite, quem comunica, quem orienta, quem instrui, quem mostra, quem dá
a última palavra, quem avalia, quem dá a nota. Sua grande e constante
pergunta é: que devo ensinar aos meus alunos? E o aluno como aparece?
Como o elemento que segue, receptor, assimilador, repetidor. Ele só reage
em resposta a alguma ordem ou pergunta do professor.
Pode parecer que exagero nesta descrição. Mas, se olharmos com
objetividade nossas aulas, vamos verificar que, se não tudo, pelo
menos grande parte do que
aqui descrevo acontece.
Por isso, disse acima , para repensar a aula
é fundamental rever o
paradigma que sustenta seu esquema atual, e propor outro paradigma. Qual?
O paradigma que propomos é substituir a ênfase no ensino pela ênfase
na aprendizagem. Simples troca de palavras? Não.
Quando falamos em aprendizagem estamos nos referindo ao
desenvolvimento de uma pessoa, e no nosso caso, de um universitário nos
diversos aspectos de sua personalidade: -
desenvolvimento de suas
capacidades intelectuais, de pensar,
de raciocinar, de refletir, de buscar informações, de analisar, de
criticar, de argumentar, de dar significado pessoal às novas informações
adquiridas, de relacioná-las, de pesquisar e de produzir conhecimento; -
desenvolvimento de habilidades humanas e profissionais que se
esperam de um profissional atualizado: trabalhar em equipe, buscar novas
informações, conhecer fontes e pesquisas,
dialogar com profissionais de outras especialidades dentro de sua
área e com profissionais de
outras áreas que se complementam para realização de projetos ou
atividades em conjunto, comunicar-se em pequenos e grandes grupos,
apresentar trabalhos. Quanto às habilidades próprias de cada profissão,
embora saiba que elas são conhecidas dos professores de cada curso e os
currículos, em geral, com elas se preocupem, queria lembrar que é
importante também fazer uma investigação para se verificar se, de fato,
os currículos permitem que todas as habilidades profissionais
possuem espaço para aprendizagem , ou se grande parte delas é
preterida em função dos conteúdos teóricos; -
desenvolvimento de atitudes e valores integrantes à vida
profissional : a importância da formação continuada, a busca de soluções
técnicas que, juntamente com o aspecto tecnológico, contemplem o
contexto da população, do
meio ambiente, as necessidades da comunidade que será atingida
diretamente pela solução técnica ou suas conseqüências, as condições
culturais, políticas e econômicas da sociedade, os princípios éticos
na condução de sua atividade profissional e que estão presentes
em toda decisão técnica que se toma.
Pretendemos formar um profissional não apenas competente, mas
compromissado com a sociedade em que vive, buscando meios de colaborar com
a melhoria da qualidade de vida de seus membros, formar u profissional
competente e cidadão. A ênfase na
aprendizagem como paradigma para o Ensino Superior alterará o papel dos
participantes do processo: ao aprendiz cabe o papel central , de sujeito que exerce as ações necessárias para que aconteça sua
aprendizagem : buscar as informações, trabalhá-las, produzir um
conhecimento, adquirir habilidades , mudar atitudes e adquirir valores.
Sem dúvida, que essas ações serão realizadas com os outros
participantes do processo : com os professores e com
os colegas , pois, a aprendizagem não se faz isoladamente , mas em
parceria, em contato com os
outros e com o mundo. O professor terá substituído seu papel exclusivo
de transmissor de informações para o de mediador pedagógico ou de
orientador do processo de aprendizagem de seu aluno. Donde sua pergunta
agora será: o que meu aluno precisa aprender de todo o conhecimento que
tenho e de toda a experiência que tenho vivido para que ele possa
desenvolver sua formação profissional? O ângulo é outro. A variação
foi de 180 graus.
A docência universitária voltada para a aprendizagem também se
apóia nos mesmos três pilares indicados acima, só que agora com outros
conteúdos. Assim: -
a organização curricular se apresenta integrando atividades e
disciplinas que colaboram para a formação do profissional, com o
conhecimento sendo tratado de forma integrada; uma organização
curricular aberta, flexível,
atualizada, interdisciplinar, facilitando e incentivando os mais diversos
modos de integrar teoria e prática, universidade e situações
profissionais, disciplinas básicas e as profissionalizantes; -
o corpo docente é
formado por professores que, além de serem excelentes profissionais, também
são pesquisadores em suas áreas específicas de conhecimento e
desenvolvem uma formação continuada com relação à competência pedagógica.
Professores que se entendem primeiramente educadores, que assumem que a
aprendizagem se constrói num relacionamento interpessoal dos alunos com
outros colegas, dos alunos com os professores, dos alunos com outros
profissionais de sua área, dos alunos com os diferentes locais onde deverá
exercer sua atividade profissional. Um corpo docente que assume seu papel
de mediador pedagógico entre o conhecimento e seus alunos. Por fim, um
corpo docente que entende que a aprendizagem se faz com colaboração,
participação dos alunos , com respeito mútuo e trabalhos em conjunto; -
a metodologia busca a redefinição dos objetivos da aula e de seu
espaço, o uso de técnicas participativas e variadas e a implantação de
um processo de avaliação como feedback motivador da aprendizagem. E
quais as características da aprendizagem
no ensino universitário? - 1. A aprendizagem universitária pressupõe, por parte do aluno, aquisição e domínio de um conjunto de conhecimentos, métodos e técnicas científicas de forma crítica. Iniciativa para buscar informações, relacioná-las, conhecer e analisar várias teorias e autores sobre determinado assunto, compará-las, discutir sua aplicação em situações reais com as possíveis conseqüências para a população, do ponto de vista ambiental, ecológico, social, político e econômico. Faz
parte desta aprendizagem adquirir progressiva autonomia na aquisição de
conhecimentos ulteriores, desenvolvendo sua capacidade de reflexão e a
valorização de uma formação continuada, que se inicia já na
universidade e se prolongará por toda sua vida. Só que esta valorização
não se fará com advertências apenas,
mas com atividades que permitam ao aluno aprender como se faz
efetivamente esta formação continuada. 2. Integrar o processo ensino-aprendizagem com a atividade de pesquisa tanto do aluno como do professor. O aluno começar a se responsabilizar por buscar as informações, aprender a localizá-las, analisá-las, relacionar as novas informações com seus conhecimentos anteriores, dando-lhes significado próprio, redigir conclusões, observar situações de campo e registrá-las, trabalhar com esses dados e procurar chegar a solução de problemas, etc. Dificilmente o aluno incluirá a investigação em seu processo de aprendizagem se o professor também não o fizer em sua atividade de docente: isto é, se o professor não aprender ele também a atualizar seus conhecimentos através de pesquisas, de leituras, de reflexões pessoais, de participação em congressos. Produção
de artigos e trabalhos que
reflitam as reflexões
pessoais do professor e suas contribuições para alguns dos assuntos de
sua área e permitam uma comunicação em revistas, em capítulos de livros, em trabalhos de
congressos, em apostilas que permitam
um debate e uma crítica de seus pares ou mesmo de seus alunos
sobre eles faz parte integrante da docência preocupada com um processo de
ensino-aprendizagem integrando atividade de pesquisa. 3. Toda aprendizagem para que realmente aconteça precisa ser significativa para o aprendiz, Isto é, precisa envolvê-lo como pessoa, como um todo: idéias, inteligência, sentimentos, cultura, profissão, sociedade. Este processo exige: a) O processo de avaliação deverá estar integrado ao processo de aprendizagem, de tal modo que funcione como elemento motivador da aprendizagem, e não como um conjunto de provas e/ou trabalhos que apenas verifiquem se o aluno passou ou não b) que se dê importância a motivar e interessar o aluno pelas novas aprendizagens com uso de estratégias apropriadas. Muitos entendem que este aspecto esteja ultrapassado e que no ensino universitário já não tenha sentido se falar e muito menos se preocupar com a motivação dos alunos , porque já são adultos e a motivação deve partir deles mesmos. Grande engano! Trabalhar com a motivação de aprendizes em qualquer idade e tempo é exigência básica para que a formação continuada possa se efetivar, inclusive conosco mesmos. Só aprendemos coisas novas quando nos apercebemos que elas tem um interesse especial para nós mesmos; c) que incentive a formular perguntas e questões que de algum modo digam respeito ao aprendiz, que lhe interessem; d) que permita ao aprendiz entrar em contato com situações concretas e práticas de sua profissão, e da realidade que o envolve; e)
que o aprendiz assuma o processo de aprendizagem como seu e possa
fazer transferências do que
aprendeu na universidade para outras situações profissionais . 4.
Porque coloca o aprendiz mais em contato com sua realidade profissional,
em geral, a aprendizagem se realiza mais facilmente e com maior compreensão
e retenção quando acontece
nos vários ambientes
profissionais , fora de sala de aula, do que nas aulas tradicionais. 5.
Teoricamente , hoje, há um consenso de
que "Aprender a aprender" é o papel mais importante de qualquer
Instituição Educacional. O que me parece imprescindível destacar
é que "aprender a aprender" é mais do que uma técnica de como
se faz. É a capacidade do aprendiz de refletir sobre sua própria experiência
de aprender, identificar os procedimentos necessários para aprender, suas
melhores opções, suas potencialidades e suas limitações. Estas
reflexões iniciais procuraram demonstrar que para repensarmos nossas aula
não podemos deixar de
analisar e discutir o paradigma que as orientará. Com estas considerações
iniciais feitas, poderemos aprofundar um pouco mais as demais questões a
que nos referimos: espaço "aula", e as diferentes atividades
que poderemos realizar para modificá-lo. II
- Conceito de sala de aula universitária Tradicionalmente a sala de aula nos cursos de ensino superior tem se constituído como um espaço físico e um tempo determinado durante o qual o professor transmite seus conhecimentos e experiências aos seus alunos. Poderíamos dizer que se trata de um tempo e espaço privilegiados para uma ação do professor, cabendo ao aluno atividades como "copiar a matéria", ouvir as preleções do mestre, à vezes fazer perguntas, no mais das vezes repetir o que o mestre ensinou. É verdade que temos também as aulas práticas , ora demonstrativas quando o professor assume um papel de mostrar como é o fenômeno, ora de aplicação de conceitos aprendidos nas aulas teóricas nos laboratórios ou em estágios. Estas são mais raras. Compreender a aula como espaço e tempo de aprendizagem por parte do aluno modifica completamente este quadro. Com efeito, sala de aula é espaço e tempo durante o qual os sujeitos de um processo de aprendizagem (professor e alunos) se encontram para juntos realizarem uma série de ações (na verdade inter-ações) como estudar, ler, discutir e debater, ouvir o professor, consultar e trabalhar na biblioteca, redigir trabalhos, participar de conferências de especialistas, entrevistá-los, fazer perguntas, solucionar dúvidas, orientar trabalhos de investigação e pesquisa, desenvolver diferentes formas de expressão e comunicação, realizar oficinas e trabalhos de campo. Este conceito de aula universitária faz com que ela transcenda seu espaço corriqueiro de acontecer: só na universidade. Onde quer que possa haver uma aprendizagem significativa buscando atingir intencionalmente objetivos definidos aí encontramos uma "aula universitária". Assim, tão importante como a sala de aula onde se ministram aulas teóricas na universidade e os laboratórios onde se realizam as aulas práticas, são os demais locais onde, por exemplo, se realizam as atividades profissionais daquele estudante: empresas, fábricas, escolas, posto de saúde, hospital, fórum, escritórios de advocacia e de administração de empresas, casas de detenção, canteiro de obras,plantações, hortas, pomares, instituições públicas e particulares, laboratórios de informática, ambulatórios, bibliotecas, centros de informação, exploração da internet, congressos, seminários, simpósios nacionais e internacionais, etc. Estes "novos" espaços de aula são muito mais motivadores para a aprendizagem dos alunos, muito mais instigantes para o exercício da docência porque envolvem a realidade profissional de ambos e como tal são complexos, facilitam a integração teoria e prática , são imprevistos, exigem inter-relação de disciplinas e especialidades , desenvolvimento de competências e habilidades profissionais, bem como atitudes de ética, política e cidadania. E por esta mesma razão são preferíveis aos espaços tradicionais de aula.
III - A aula universitária no dia-a-dia.
Apresentado o paradigma de
Ensino Superior que se volta para o desenvolvimento da aprendizagem, e
levantadas algumas idéias sobre como conceber hoje a "aula universitária
, em seu novo espaço e tempo", parece-me
necessário avançarmos para um campo que é dos mais difíceis, e sobre o
qual não dispomos de tanta literatura: como
se transpõe essa teoria para a prática pedagógica na aula
universitária?
Nos mais diferentes contatos que tive com professores do Ensino
Superior, sempre encontrei a mesma demanda: como se colocam estes princípios
na prática? Como mudar o modo, a forma de lecionar?
Penso que é importante enfrentar este desafio, e procurar
responder a estas questões com
exemplos práticos do uso de
várias técnicas que podem nos ajudar a
trabalhar visando a aprendizagem. 1. Um primeiro exemplo: como iniciar um curso apresentando o plano de trabalho e procurando envolver o aluno na discussão do próprio plano e motivá-lo para a aprendizagem que é necessária? No primeiro encontro com os alunos, iniciar o contato deixando claro que o sucesso daquela disciplina vai depender de um trabalho em equipe entre professor e alunos, um trabalho de parceria e co-responsabilidade e que irá começar naquele mesmo instante, quando, o grupo classe vai procurar se conhecer melhor e se manifestar sobre quais são suas expectativas sobre a disciplina, o que já ouviram falar sobre ela, que comentários de colegas ouviram, o que pensam que vão estudar e para que serve aquela disciplina. Quais nossos objetivos com esta atividade? Criar oportunidade para um início de integração entre os membros da turma visando formação de um grupo de trabalho e envolver os alunos com a disciplina, criarmos espaços para podermos explicar nossa disciplina e procurar que eles se interessem por ela. Vamos gastar tempo com isto, mas ganharemos depois quando nossos alunos se mostrarem motivados para aprender o que pretendemos que aprendam. Para este primeiro encontro poderemos usar algumas técnicas como a tempestade cerebral ; as discussões em pequenos grupos; o desenho em grupo (com turmas muito numerosas) quando os pequenos grupos são convidados a colocar em uma cartolina, não usando palavras escritas, mas outras formas de comunicação (desenho) suas idéias sobre a disciplina a partir de uma questão relevante que o professor apresente para todos. Em seguida, estes desenhos são apresentados e o professor vai reunindo deles os elementos necessários para sua explicação inicial sobre sua disciplina. Juntamente com os alunos, o professor procurará conversar sobre os objetivos da disciplina, os conteúdos que serão estudados e suas relações com outras disciplinas e com a formação profissional que se pretende, sua importância para a vida profissional, quais estratégias serão usadas, qual a bibliografia, e como será o processo de avaliação , de tal modo que ao final os alunos assumam com o professor que aquele plano de trabalho realmente é interessante para eles e se comprometam em levá-lo para frente.
A
continuidade deste primeiro encontro deverá ser o cumprimento do que foi
combinado no encontro seguinte e nos demais, para que os alunos não
entendam que o que se fez no encontro primeiro foi apenas uma conversa sem
conseqüência. A confiança se conquista a
partir daqui.
2. Outro exemplo: como organizar a seqüência
de uma aula que coloque o aluno e o professor trabalhando juntos
durante o tempo da aula e em tempo extra classe, de forma a envolver aluno
e professor? Um autor, Antoni Zabala em seu livro "A Prática Educativa" (1998-pp.58) nos oferece um caminho para analisarmos. Diz o autor que uma seqüência de aula poderia ser esta: - Apresentação pelo professor de uma situação problemática relacionada com um tema, destacando aspectos importantes e para a qual se procura uma solução científica. - Os alunos, individual ou coletivamente, orientados pelo professor procuram possíveis respostas nos seus conhecimentos, para a situação ou apresentarão dúvidas, perguntas, questões - Indicação de fontes de informação: orientados pelo professor, os alunos propõe fontes de informação mais apropriadas para cada questão e problema levantado: o próprio professor, uma pesquisa bibliográfica, uma experiência, uma observação, uma visita a uma situação real, uma entrevista, um trabalho de campo. - Busca da informação: os alunos individual ou coletivamente, orientados pelo professor realizam a coleta de dados e informações das diferentes fontes indicadas e selecionadas. Selecionam, organizam e classificam o resultado desta coleta de dados. - Resposta para a situação problemática. Juntos os alunos, socializando as informações obtidas, procuram resolver a questão debatendo-a com os colegas, com o professor, aprofundando aspectos teóricos, desenvolvendo a habilidade de aplicação das teorias às situações concretas. -
Generalização das conclusões e síntese. Com as contribuições
do grupo, o professor faz uma
síntese do problema, das possíveis e diversas soluções e de suas
aplicações. Evidente
que este não é o único esquema de aula. Há outros muitos e este mesmo pode sofrer inúmeras adaptações. O que interessa no momento
é que possamos visualizar uma seqüência de atividades pedagógicas que
poderão ocorrer em aula universitária e que permitem a participação do
aluno como sujeito do processo de aprendizagem, sua parceria com o
professor e os colegas na aula, uma atitude de participação ativa
buscando informações, dando significado a elas, comparando-as com
seu mundo intelectual, o desenvolvimento de uma habilidade de
integrar teoria e prática que lhe permita encontrar solução para um a
situação concreta e aprender atitudes e valores importantes a serem
considerados quando de uma atuação profissional.
3. Em geral , costumamos pedir aos nossos alunos que façam leituras
em casa para a próxima aula, e, conforme depoimentos dos próprios
professores, de um modo geral também, os alunos não o fazem. Teríamos
algumas estratégias que mostrassem ao aluno quão importante é a leitura
individual,ou preparação par o encontro com o professor e os colegas na próxima aula? Ao
fazermos indicações de leituras para próxima aula, poderemos cuidar de
que o tamanho do texto seja possível de ser lido de uma semana para
outra, ou de uma aula para outra; e que o texto seja pertinente e
atualizado com relação ao tema estudado; procurar que cada solicitação
de leitura seja acompanhada de uma atividade diferente orientada pelo
professor que possa motivar o aluno para a leitura e para a atividade que
será realizada em aula com o material produzido fora de sala de aula . Assim,
posso solicitar que numa semana os alunos leiam um texto e façam dele um
resumo; em outra, que leia respondendo algumas questões; numa terceira
que leia levantando perguntas ou dúvidas para serem discutidas ou
esclarecidas no encontro seguinte; em outra oportunidade ler identificando
argumentos da teoria exposta e apresentando sua reflexão pessoal
fundamentada sobre eles; outra vez ler
procurando resolver um caso; e assim por diante. Deste modo, a atividade
de leitura não fica apenas como "uma lição de casa" sem conseqüência,
mas uma preparação para as atividades que serão realizadas em aula com
o professor e outros colegas. Este
é um ponto importante a se pensar quando se propõe uma leitura fora de
classe: que atividade será
realizada com a leitura feita e o material produzido e o que se fará com
os alunos que não tiverem realizado a leitura e se preparado para a aula.
A resposta me parece clara : ter planejado atividades pedagógicas
coletivas que dêem continuidade em aula ao estudo individual, mas que só
serão realizadas pelos alunos que tiverem realizado a atividade
individual como preparação para elas. Os alunos que não tiverem feito a
leitura deverão fazê-lo no primeiro momento de aula, individualmente, e
separadamente dos demais , preparando-se para a seqüência das demais
atividades. Os alunos perceberão a importância do trabalho individual
para participação no coletivo, o que significa ter respeito ao outro
quando de uma participação em grupo , e a própria atividade coletiva
deixa de ser um "bate papo entre
amigos", para se tornar uma atividade séria de construção de
conhecimento e de aprendizagem.
4. A aula expositiva é uma das técnicas mais usadas por nós
professores. Será que num paradigma
que valoriza a aprendizagem essa técnica ainda tem lugar? Alguns
pensam que não, que ela estaria abolida. No meu entender, não se trata
disso; mas, sim de se usar a aula expositiva como uma técnica, isto é quando ela for
adequada aos objetivos que
temos. Isto quer dizer que ela cabe, por exemplo, no início de um assunto
para motivar os alunos a estudá-lo ou para apresentar um panorama geral
do tema que será estudado posteriormente; ou como síntese de um estudo
feito individual ou coletivamente, ao final dos trabalhos. Sempre usando
de 20 a 30 minutos (não mais do que isso), pois é um tempo no qual
conseguimos manter a atenção dos alunos, e assim mesmo com alguns
recursos adicionais, como por exemplo: usar
slides, vídeos, retroprojetor, apresentar casos, chamar atenção
pra notícias recentes que tenham a ver com o que estamos falando,
provocar o diálogo com os alunos, fazer perguntas, solicitar a participação
dos alunos, por vezes convidar algum professor colega nosso da mesma
Universidade para discutir o assunto com os alunos
e assim por diante. Dentro
do paradigma que privilegia a
aprendizagem, transmitir informações
através da técnica da aula expositiva não é aconselhável, uma vez que
buscar informação e trabalhar com ela
é muito mais
importante que ouvir as informações já organizadas, absorvê-las e
depois , reproduzi-las. 5.
Poderíamos considerar agora algumas técnicas de dinâmica de grupo
que favorecessem a interação grupal e facilitasse o processo de
aprendizagem, uma vez que defendemos a proposta de que nós aprendemos na
relação com os outros e com o mundo. .Atividades
pedagógicas coletivas são profundamente diferentes de atividades individuais,
porque envolvem um grupo de
pessoas trabalhando de forma diferente que o indivíduo, com objetivos e
regras diferentes , e com resultados esperados também diferentes . Mas
porque tanta diferença?
Em primeiro lugar, precisamos
ter clareza de que qualquer
atividade pedagógica coletiva deve trazer contribuições
mais significativas e mais avançadas que as produzidas pelo indivíduo
isolado. Portanto, um primeiro princípio a ser observado: atividade pedagógica
coletiva não se destina apenas
para se justaporem colaborações
individuais. Para isto não precisamos dessas atividades. O mínimo que se
espera é que um grupo, além de tomar conhecimento das colaborações dos
seus participantes possa discuti-las, analisá-las, e com este debate
avance os estudos afim de que se transcenda aqueles
já apresentados pelos participantes.
São exemplos de atividades pedagógicas coletivas: seminário,
excursões, atividades em
grupos as mais diversas como G.O G.V, painel integrado, grupos de
oposição, pequenos grupos de formular questões ou solucionar
casos , projetos. Seminário entendido como atividade que se compõe de dois momentos: o primeiro no qual pequenos grupos realizam uma pesquisa sobre um determinado tema proposto pelo professor, orientada pelo professor e que deverá seguir todos os passos de uma pesquisa: coletar dados, organizá-los, analisá-los e produzir um trabalho conclusivo com características de um trabalho científico. Mas, observe-se bem: estes procedimentos, além de atividades individuais preparatórias, deverão ser realizados coletivamente, de tal forma que se aprenda a pesquisar e produzir conhecimento de forma coletiva. Observe-se que esta pesquisa vai consumir de dois a três meses de trabalho fora de sala de aula , orientado pelo professor, enquanto o plano da disciplina prossegue. A monografia, ou trabalho científico produzido poderá ser socializado entre os colegas de classe de diversas maneiras: distribuindo-se cópias , fazendo-se apresentações , organizando-se pôster, etc.
Mas,
para que possamos falar de seminário, há que se realizar o segundo
momento: marca-se uma data, na qual se fará uma mesa redonda coordenada
pelo professor, sobre um novo tema que não tenha sido
diretamente pesquisado por nenhum grupo, mas para cuja discussão
todos os grupos de pesquisa dispõe de dados. O professor escolhe de cada
grupo de pesquisa um representante que durante a discussão do novo
assunto deverá trazer contribuições a partir de seu grupo de pesquisa.
Com isso, após a mesa redonda teremos um novo tema estudado e debatido a
partir de dados de pesquisa , com
produção coletiva.
G.O G.V. ou Grupo de Observação e Grupo de Verbalização: dois círculos concêntricos na sala , um com 5 ou 6 elementos que discutirão um tema por tempo determinado, não maior que 15 minutos e outro maior (o restante do grupo classe) que no primeiro momento observará a discussão e no segundo momento passará a debater, ficando o primeiro como observador do debate. Realizada a primeira discussão que é observada pelo grupo maior, em seguida, este grupo completa, corrige, debate o que foi trabalhado levando a frente a discussão. É o tipo de atividade pedagógica que serve tanto para introduzir um assunto, explorando as experiências pessoais dos alunos, ou seus conhecimentos primeiros sobre um assunto, como para debater um caso ou um assunto sobre o qual já se leu anteriormente. Na
primeira hipótese, a técnica funciona como um recurso de motivação par
um estudo mais aprofundado a seguir, com outras técnicas, ou uma
atividade surpresa que chame a atenção par um assunto; na segunda situação, visando algum aprofundamento de um tema, sempre será
precedido de uma leitura ou estudo sobre o tema. Painel integrado é uma técnica muito interessante e incentiva a uma grande participação por parte dos alunos. É mais apropriada para aprofundamento de um assunto e desenvolvimento de habilidades, como trabalhar em grupo, e desenvolvimento de atitudes de responsabilidade e crítica. Divide-se a turma em grupos de 5 participantes e para cada grupo dá-se um tema, uma pergunta, ou um artigo, ou um capítulo de livro diferentes que deverão ser lidos individualmente antes da aula e coletivamente trabalhados no primeiro tempo da aula. Este primeiro grupo recebe uma tarefa a realizar, todos os participantes deverão ter mãos uma cópia do relatório final e distribuírem-se um número de 1 a 5 . No segundo tempo, organizam-se novos grupos, agora agrupados pelos números 1,2,3,4,5 e para este novo grupo , nova atividade com característica de intercâmbio de informações entre eles (uma vez que cada um provem de um grupo diferente), integração dos conhecimentos produzidos e novo resultado esperado. Por
fim, o professor que esteve presente em um dos grupos do segundo momento,
fará os comentários que julgar pertinentes a partir de tudo o que ouviu. Grupos de oposição: atividade coletiva muito interessante para ajudar os alunos a desenvolver sua habilidade de argumentação e estudo dos fundamentos das teorias. Formam-se grupos que apresentem argumentos pró e contra determinada teoria ou princípio, debatendo um tema, discutindo um caso, resolvendo uma situação, resolvendo um problema, sempre apresentando argumentos que justifiquem a decisão de cada grupo. Mediados pelo professor, os grupos são se alternando na apresentação de argumentos que defendem ou atacam a questão proposta e os debates se farão discutindo-se a validade e importância dos argumentos apresentados. Para
desenvolver a habilidade de argumentar, às vezes, o professor pode trocar
os participantes de grupo; por
exemplo, solicitando que os que são a favor passem a atacar e os que
atacam , passem a defender determinada posição. Pequenos grupos para formular questões. Esta é uma técnica coletiva que colabora com o aluno para a adequada compreensão de um assunto, desenvolvendo sua capacidade de perguntar. Fazer perguntas inteligentes a partir de um texto procurando esclarecimentos, ou resolução de dúvidas, ou trazer tópicos mais atuais, ou instigantes, ou provocadores é uma qualidade importante que ajuda o aluno inclusive a aprender a ler bem um texto. Solicita-se que cada aluno, em casa, antes da aula, prepare 2 ou 3 questões que no seu entender sejam importantes para um debate em classe. No dia da aula, divide-se a turma em pequenos grupos de 5 componentes cada um para num tempo de 10 minutos,partindo das questões levantadas em casa, elaborarem duas ou três questões relevantes para o estudo de um assunto. Cada grupo encaminha suas perguntas a um outro grupo que terá 10 ou 15 minutos no máximo para estudar as questões e respondê-las por escrito. Nos próximos 10 minutos , um segundo grupo estuda as mesmas questões, analisa as respostas do primeiro grupo, corrige o que acha que está errado, completa, amplia as respostas e passa essas perguntas para um próximo grupo, e assim por diante até que pelo menos quatro grupos estudem as perguntas formuladas. Após esse giro, as questões voltam ao grupo que as formulou que deverá analisar as respostas recebidas, dar a sua resposta e encaminhar esta resposta para o plenário. Trata-se
de uma atividade coletiva que ajuda o aluno a trabalhar com informações,
permite o desenvolvimento de
habilidades como a de
perguntar, responder e analisar respostas, e permite que se construa
atitude de curiosidade, de crítica, de relacionamento entre pares e de
respeito por opiniões ou propostas diferentes da sua. Projetos, sem dúvida, uma das mais completas e envolventes atividades pedagógicas coletivas. Elaboração de um projeto sempre está relacionada a uma situação profissional, a uma situação real. O grupo de alunos poderá identificar uma situação problemática , descrevê-la, levantar perguntas, fazer o diagnóstico do problema, levantar aspectos teóricos que sirvam de fundamentação para se compreender adequadamente aquela situação, indicação dos procedimentos a serem realizados , implementá-los, buscar solução para as questões, enfim resolver o projeto proposto. Trabalhar
com projetos é uma forma muito especial de se desenvolver tanto o ensino
com pesquisa, como se experimentar uma situação de uma equipe de
trabalho profissional que se reúne para desenvolver um projeto em uma
firma ou em uma empresa ou em uma instituição .Tais
situações exigem equipe, exigem o coletivo, exigem saber
trabalhar em grupo, partilhar idéias e sugestões, respeitar idéias dos
outros, colaborar, por vezes, desprender-se de suas próprias idéias em
prol de uma proposta melhor. 6. Outro conjunto de atividades pedagógicas que hoje já começam a fazer parte do cotidiano da sala de aula universitária se refere à mídia eletrônica que no dizer de Moran "é prazerosa - ninguém obriga que ela ocorra; é uma relação feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial. ...Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades. ... educa enquanto estamos entretidos. Imagem, palavra e música integram-se dentro de um contexto comunicacional de forte impacto emocional, que predispõe a aceitar mais facilmente as mensagens". (Moran,2000,pp.33-34) A mídia eletrônica envolvendo o computador, a telemática, a internet, o chat , o e-mail, a lista de discussão, a teleconferência pode colaborar significativamente para tornar o processo e aprendizagem mais eficiente e mais eficaz, mais motivador e mais envolvente. Ela rompe definitivamente com o conceito de espaço "sala de aula" na universidade para afirmar sua existência desde que haja professor e aluno estudando, pesquisando, trocando informações, em qualquer tempo, tendo entre eles apenas um computador. Os recursos eletrônicos facilitam a pesquisa, a construção do conhecimento em conjunto ou em equipe, a intercomunicação entre alunos e entre estes e seus professores. Apresentam um novo modo de se fazer projetos, de simular situações reais, de discutir possíveis resultados ou produtos esperados, de analisar diversas alternativas de solução. Facilitam grandemente o contato com especialistas através de e-mails ou tele-conferências. Embora saibamos que estas metodologias estão mais voltadas para encaminhar problemas de educação à distância, no entanto, elas podem auxiliar também em nossas aulas presenciais tornando-as ainda mais dinâmicas e interessantes. A teleconferência nos coloca a possibilidade de entrar em contato com algum professor ou especialista que se encontra em local fisicamente longínquo, mas que poderá dialogar conosco sobre determinado assunto. Realização de estudos sobre o tema, bem como informações sobre o conferencista e suas posições científicas antes da conferência ajudarão a compreender melhor as informações, fazer perguntas mais adequadas e proveitosas, e aproveitar mais do contato com o especialista. Uma teleconferência sempre precisará ser seguida de outras atividades que a aprofundem. O chat ou bate-papo on - line funciona como uma técnica do brainstorming. É um momento em que todos os participantes estão no ar, ligados, e são convidados a expressar suas idéias e associações de forma livre. Esta técnica permite conhecer as manifestações espontâneas dos participantes sobre determinado tema, aquecendo um posterior estudo e aprofundamento desse assunto. Listas de discussão . Esta técnica cria a possibilidade de grupos de pessoas poderem se manifestar sobre um tema que vem sendo estudado pelos grupos. Seu objetivo é fazer uma discussão que avance os conhecimentos e experiências para além da somatória de opiniões do grupo. Esta lista pode ficar no ar por uma dou duas semanas, até que se entenda que o as contribuições já se esgotaram. Durante esse tempo, o debate entre todos os membros dessa lista é contínuo, em qualquer tempo e "hora". Correio eletrônico. Pensando no processo de aprendizagem e na interação professor -aluno e aluno-aluno, o correio eletrônico se apresenta como um recurso muito forte para favorecer a multiplicação desses encontros entre uma aula e outra, para sustentar a continuidade do processo de aprendizagem e se realizar um atendimento e orientação que se façam necessários antes da próxima aula. Da mesma forma, o professor pode achar conveniente comunicar-se com um ou todos os alunos antes da aula com informações novas. Este recurso é fundamental para o processo de aprendizagem porque incentiva a inter-aprendizagem entre os alunos, a troca de materiais e a produção de textos em conjunto. Internet.
Com a Internet dispomos de um recurso dinâmico , atraente e atualizadíssimo,
de fácil acesso que
possibilita a aquisição de um número ilimitado de informações e dá
oportunidade de contatar várias bibliotecas de universidades. Aprende-se
a criticar as informações acessadas, escolher o melhor, organizar
informações, e fontes, produzir textos pessoais e trabalhos monográficos.
Mas, para que isto aconteça é fundamental a orientação do professor. 7. Por último, não poderíamos deixar de comentar as possibilidades de dinamizar nossas aulas, lançando mão do uso de situações reais de atuação profissional como condições extremamente favoráveis à aprendizagem dos alunos. Queremos chamar a atenção para as possibilidades de aprender em enfermarias, em postos de saúde, nos ambulatórios, nos hospitais, em consultórios, nas indústrias, nas fábricas, nas empresas, em escritórios de administração, contabilidade ou advocacia, nos fóruns, nos escritórios modelos, nas escolas, nas obras, nos projetos assistenciais, nos partidos, nos sindicatos, nas secretarias de governo, e em outras situações semelhantes a estas. Em contato com a realidade profissional, os alunos sentem-se profundamente interessados em estudar e resolver problemas, em pesquisar e buscar saídas para as questões que se põem em seu trabalho. Sentem-se adultos, responsáveis, curiosos, satisfeitos com os resultados obtidos. Quase arriscaria dizer que, em contato com a realidade, os alunos aprendem por eles mesmos; mais do que em outras circunstâncias talvez, se comportam como sujeitos de suas aprendizagens. Termos
coragem de usar estes espaços para dinamizar nossos cursos, motivar os
alunos a se dedicarem a seus estudos na busca de uma profissão competente
e co-responsável pela sociedade, atualizarmos os currículos, e
integrarmos universidade e sociedade é
a ousadia que ainda nos falta para efetivamente repensarmos nossas aulas
dentro de um novo paradigma. 8. Não poderíamos encerrar estas reflexões sobre as atividades pedagógicas em sala de aula universitária sem nos referirmos a uma outra atividade pedagógica que é fundamental desenvolvermos em nossa docência: chama-se avaliação. Com efeito, não entendemos a avaliação como uma atividade que tem por finalidade apenas medir e controlar os resultados de um processo de aprendizagem , verificar o que foi aprendido e dar um julgamento sobre os resultados. Avaliação para nós é em primeiro lugar a capacidade de se refletir sobre o processo de aprendizagem, buscando informações ( feedback) que ajudem os alunos a perceber o que estão aprendendo, o que está faltando, o que merece ser corrigido, o que é importante ser ampliado ou completado, como os aprendizes poderão fazer melhor isto ou aquilo, e principalmente como motivá-los para desenvolverem seu processo de aprendizagem. A avaliação pode ser considerada como a grande atividade pedagógica desde que entendida como explicamos acima, pois ela acompanha todas as demais atividades, incentiva o aluno a progredir e realizar cada vez melhor as atividades subseqüentes. No
livro "Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica", há um capítulo
escrito por mim, no qual destaco alguns pontos sobre o processo de avaliação
que me parecem oportuno serem aqui retomados, uma vez que eles demonstram como a avaliação pode modificar nossas
aulas universitárias. a)
O processo de avaliação deverá estar integrado ao processo de
aprendizagem, de tal modo que
funcione como elemento motivador da aprendizagem, e não como um conjunto
de provas e/ou trabalhos que apenas verifiquem se o aluno passou ou não. b)
Uma característica básica da
avaliação é seu caráter de feedback ou de retro-alimentação , que
traga ao aprendiz informações necessárias, oportunas e no momento em
que ele precisa para que desenvolva sua aprendizagem. c)
Tanto no uso de técnicas presenciais como no uso de tecnologia à
distância, encontram-se embutidas informações que permitem ao professor
e aos alunos se avaliarem com relação aos objetivos pretendidos. Basta
explorá-las. d)
Os vários participantes do processo de aprendizagem precisam de feedback:
o aluno, o professor, os colegas ou grupo de alunos, e o programa que está
sendo desenvolvido. Todos estão implicados na aprendizagem e na aula
universitária.Todos precisam saber se estão colaborando para a consecução
dos objetivos acordados. e)Tem
sentido desenvolver-se a auto-avaliação, quando o próprio aluno aprende
a diagnosticar o que aprendeu, quais são suas dificuldades no processo, e
quais são suas capacidades que lhe facilitam aprender . Estas percepções
o ajudarão por toda a vida. f)
A aula universitária, então, passa
a ser também um espaço de avaliação: um espaço para o diagnóstico da
aprendizagem ,
bem como de diálogo,
discussões e sugestões para o
seu desenvolvimento. Encerrando estas reflexões sobre o repensar a docência universitária focalizada na transformação da aula no Ensino Superior, pretendo retomar o ponto inicial de nosso diálogo: por detrás do modo como geralmente acontecem as aulas na Universidade há um paradigma de ensino, muito consolidado e estruturado por muitas décadas e que sustentam a docência universitária como ela aparece, e que precisa ser substituído por um novo paradigma que permita e dê fundamentação para as inovações que queremos fazer em nossas aulas. Só assim poderemos falar de mudar , de dinamizar as aulas, de tornarmos estas "aulas vivas", de tornarmos as aulas um espaço privilegiado de aprendizagem, de formação de profissionais competentes e cidadãos. Só
assim obteremos resposta para uma questão
que nos persegue já há algum tempo a nós professores: qual o
novo papel dos professores universitários nestes tempos , junto aos
jovens alunos que procuram a universidade? RECOMENDAÇÕES
BIBLIOGRÁFICAS. A
complementação deste textos e das idéias que ele apresenta poderá ser
feita com algumas leituras que recomendo vivamente àqueles que se
interessaram por estes assuntos: 1.Zabala
, Antoni - A Prática Educativa - ArtMed, Porto Alegre, 1998 2.Perrenoud
, Philippe - Novas Competências para Ensinar - Art Méd , Porto
Alegre,2000 3.Hernández,
Fernando - Cultura Visual,
Mudança Educativa e Projeto de trabalho - ArtMed , Porto Alegre, 2000 4.Moran,
J.M., Masetto, M.T. e Behrens, M.ª - Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica
- Papirus, Campinas/SP , 2000 5.Masetto,M.
- "Aulas Vivas" - M.G. Ed. - São Paulo ,1992 6.Masetto,
M.T e Abreu,M.C._ O professor Universitário em Aula - M.G. Ed. S.P.11a.ed.1999 7.
Valente, J. A (Org.)- O Computador na Sociedade do Conhecimento - Unicamp/Nied-Campinas/SP
- 1999 8.
Castanho, Maria Eugênia (Org.) - Pedagogia Universitária
-A Aula em Foco - Papirus, Campinas/SP - 2000 9.
Castanho, Maria Eugênia e Castanho, Sérgio - O Que Há de Novo na Educação
Superior - Papirus, Campinas/SP -2000 10.Benedito
,Vicenç et alii - La Formación Universitária a debate -Universitat de
Barcelona - Barcelona - 1995 11.
Meirieu, Philippe - Aprender...sim, mas como? - ArtMed-Porto Alegre -1998 12. Perrenoud, Philippe - Avaliação - ArtMed.-Porto Alegre - 1999 |