Condições Facilitadoras de Aprendizagem. |
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Condições Facilitadoras de Aprendizagem. Prof.Dr.Marcos T.Masetto
INTRODUÇÃO. Após muitos anos de docência na Universidade era comum ouvir de alunos reclamações do tipo: “Por que ir à aula? Aí não se aprende nada. O professor poderia indicar leituras a serem feitas e marcar o dia da prova. Todos viriam e, caso fossem aprovados, partiriam para nova etapa. Caso , não , deveriam refazer a prova. Assim não perderíamos tempo. A freqüência seria livre...etc..”. Do lado de professores, o lamento era diferente: “Estou formado a tanto tempo, venho me dedicando a preparar bem minhas aulas, procurando manter-me atualizado em minha matéria, corrigindo trabalhos e provas, gastando energias, e que recebo em troca? Um salário muito ruim , uma frustração de ver cada vez maior número de alunos reprovados nas minhas matérias, alunos desinteressados, faltosos, , como se estivessem me fazendo um favor vindo às minhas aulas.. Estarei eternamente condenado a isto?” A partir desta situação, resolvi fazer uma pesquisa, com alunos do ensino superior, buscando com eles resposta à seguinte pergunta: como poderia ser uma aula que fosse interessante para os alunos e os motivasse a assisti-la e gratificante para os professores ? Trabalhei com 6 turmas diferentes, durante 3 anos construindo com cada turma aulas diferentes e avaliando-as com os alunos . Ao término deste tempo , e tendo trabalhado com 250 alunos, dos mais diversos cursos de graduação, chegamos a algumas conclusões que encaminhavam respostas positivas à nossa pergunta original.
Preocupado
de que os resultados poderiam acontecer apenas comigo, porque afinal eu
era o pesquisador, procurei alguns colegas de outras disciplinas que
estivessem dispostos a usar em suas aulas o que havíamos descoberto. E ,
assim, professores de Cálculo Diferencial e Integral , Álgebra Linear,
Complementos de Matemática, puderam perceber que suas aulas se tornavam
interessantes para os alunos, e algo gratificante para eles. Com essas
confirmações ousei publicar os resultados de minha pesquisa. E seu
resumo passo a descrever.
FACILITARAM
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM... Os resultados de minha pesquisa apontavam para 6 situações que , se modificadas, tornavam a aula no ensino superior mais motivadoras e interessantes tanto para os alunos como para os professores. 1. A primeira dizia respeito ao planejamento do curso. Este costumeiramente é feito pelo professor que o apresenta ou o distribui no primeiro dia de aula aos alunos e imediatamente inicia o curso com o primeiro tema da matéria. Em nosso trabalho ficou clara a necessidade de se dar novo tratamento ao planejamento. Como torná-lo uma peça importante no curso a ponto de envolver alunos e professor em sua elaboração? Iniciamos os cursos , de um lado trazendo nossas propostas como professor , e de outro ouvindo os alunos sobre suas expectativas quanto ao curso, suas necessidades, seus problemas, questões, dúvidas e, mesmo propostas para aquele curso. Como uma equipe de trabalho, procuramos nos conhecer e , juntos, organizar um plano de atividades que fossem interessantes para nós. Os primeiros contatos com os alunos não foram para que “os alunos dissessem quais os conteúdos do curso, ou quais os temas do curso e o professor simplesmente cumprisse o proposto pelos alunos”. Seu objetivo era ouvir os alunos e dialogar com eles sobre o que seria importante que eles aprendessem, por que seria importante, e percebêssemos qual a situação real dos alunos quanto à matéria: conhecimentos, dúvidas, concepções errôneas, o que não sabiam e nem desconfiavam que precisariam saber, qual seria uma metodologia de aula adequada para que aprendessem e as aulas fossem mais interessantes, como seria o processo de avaliação. Ao final deste diálogo, organizamos juntos um plano de curso, inclusive com as sugestões do professor, e realizamos um pacto ou contrato de trabalho conjunto, pelo qual todos seríamos responsáveis pela realização daquele plano durante o semestre . Para isto, incluiu-se uma avaliação do próprio plano periodicamente, ou seja , a cada dois meses , para que ele se apresentasse flexível, permitindo adaptações de tempo , conteúdo e metodologia ou outras correções que fossem necessárias.
2.
A
segunda situação a ser modificada dizia respeito à definição
do conteúdo do curso. As sugestões que vieram dos alunos quanto a este item me pareceram óbvias , mas por isso mesmo mais preocupantes. Afinal o que os alunos me diziam que poderia tornar as aulas mais motivadoras era tratar de assuntos que fossem de interesse dos alunos ; que se manifestassem úteis a eles trazendo o dia-a-dia para dentro da sala de aula e propiciando aplicações práticas do estudo realizado ; que os temas focalizados se relacionassem com os conhecimentos, com a experiência, com a realidade profissional e com suas necessidades, e, por último, que a busca de solução para os problemas e questões debatidas se fizesse de forma conjunta entre professor e aluno, trocando experiências e conhecimentos e não fossem simplesmente oferecidas pelo professor ou pelo manual . Ora ,isto é o mínimo que se pode esperar no tratamento de um conteúdo em uma sala de aula de ensino superior. Mas, a insistência com que apareceram esses dados, me fizeram realizar algumas entrevistas com alunos e professores e, qual não foi minha surpresa ao ouvir de uns e de outros que a reivindicação procedia uma vez que , na realidade, muitos temas abordados em aula careciam daquelas qualidades.
Por
outro lado, ao contemplar essas preocupações na seleção de conteúdos
houve uma resposta muito positiva dos alunos em termos de interesse e
motivação pelo estudo dos assuntos planejados. 3. A terceira sugestão veio na direção das estratégias de sala de aula. Um elemento importante para facilitar a aprendizagem em sala de aula corre por conta das estratégias que usamos em aula . Contribuem positivamente quando são variadas; quando as aulas expositivas são substituídas por técnicas mais novas e mais dinâmicas; quando as técnicas propiciam a integração do grupo-classe, permitindo que a aprendizagem se realize também no relacionamento grupal, entre alunos ; quando incentivam a participação “ativa” dos alunos no processo de aprendizagem, retirando-os da passividade costumeira ; quando motivam os alunos para os estudos individuais, para as atividades programadas dentro e fora de sala e para a co-responsabilidade pelo processo de aprendizagem.
Sem
dúvida, para atender estas propostas , o professor deverá conhecer e
dominar um conjunto de técnicas que lhe permitam
não só variar as estratégias, como também escolher as mais adequadas para os objetivos de aprendizagem
que estão previstos. 4. A modificação do clima de sala de aula aparece como a quarta sugestão para aumentar a probabilidade de aprendizagem .
Contribuiu
significativamente a construção de um ambiente de abertura, com a
possibilidade de questionamentos; de respeito mútuo entre professor e
alunos ; de trabalho
descontraído e espírito democrático ; quando se construiu um ambiente
de participação, no qual professor e alunos trabalharam juntos ,
expuseram seus pontos de vista, seus estudos , suas opiniões
fundamentadas , argumentaram
e trouxeram suas experiências ;
quando se construiu uma
ligação entre teoria e prática, permitindo que a sala de aula se
transformasse num espaço
onde a realidade externa tinha condições de ser considerada e estudada
juntamente com os conhecimentos científicos produzidos.
5.
Um dos pontos mais delicados nesta pesquisa, mas que, contraditoriamente,
respondia por um grande peso nas preocupações dos alunos era o
processo de avaliação. Ao mesmo tempo em que se admitia como uma experiência
terrível e estressante,
exigia certa dedicação pois, se tratava de obter uma nota que o
aprovasse para o ano seguinte. Então, tudo se fazia para se obter
a tal nota, mesmo com reclamações. Esta situação não condizia com o que pretendíamos em termos de sala de aula motivadora. Como transformar um processo, por vezes até odioso, em uma forma de motivação para aprendizagem? Com a colaboração dos alunos , chegamos a algumas conclusões. Um processo de avaliação pode facilitar a aprendizagem quando pensado e organizado com vistas mais para identificar o que o aluno aprendeu, do que para lhe dar uma nota; quando planejado como um processo de feedback (retro-informação) imediato, visando estimular o aluno que se saiu bem nas atividades propostas ou correção imediata, se necessária; quando trabalhado como um processo contínuo, durante o curso, e não somente realizado em provas ou trabalhos finais ; quando expresso por comentários que ofereçam informações adequadas ao aluno , e não apenas por notas ou conceitos que , em geral, não servem como feedback ; quando, enfim, se conseguir realizá-lo como um processo sem tensão, uma vez que considerado nem tanto como um julgamento com sentença , e sim como oportunidades a mais de aprendizagem.
Registro
e observações, diálogo com alunos, avaliação inclusive da atuação
do professor frente aos objetivos de aprendizagem são pontos importantes
para o desenvolvimento deste processo avaliativo. 6. Por último ,
mas não o menos comentado, apareceu em minha pesquisa , o item características
do professor como um dos
mais importantes a ser alterado se quiséssemos realmente tornar nossa
aula um ambiente facilitador de aprendizagem. Não só obteve o maior número
de manifestações dos alunos, como se mostrou bastante rico o elenco das
características do professor que são importantes para que os alunos se
motivem e interessem pela aprendizagem.
Foram
indicadas as coerências entre o discurso e a ação do professor em aula
e fora dela ; competência específica em sua área de conhecimento e em
didática; clareza e objetividade na transmissão de informações ;
incentivo à participação e capacidade de coordenação das atividades ;
segurança, abertura à crítica e às propostas dos alunos, capacidade de
diálogo; preocupação com os alunos e seus interesses; relacionamento
pessoal e amigo; paixão pela docência (o aluno percebe claramente quando
o professor “não está nem aí para a docência” e a exerce apenas
porque é obrigado e não tem outra saída).
Estas
sugestões levadas a sério e planejadas para que se realizassem se
mostraram convincentes no
apontar um caminho para facilitar a aprendizagem do aluno de ensino
superior e tornar nossas aulas mais interessantes e motivadoras. Sem dúvida,
realizá-las é um grande desafio para todos nós professores e,
dificilmente, conseguiríamos colocá-las em prática todas e bem num
primeiro momento. Mas , minha experiência com professores universitários
,interessados em conseguir melhores resultados com seus alunos , me tem
mostrado a possibilidade de
iniciarmos um trabalho que, aos poucos vai se aperfeiçoando e se
desenvolvendo , descobrindo mesmo situações novas e diferentes que em
suas realidades se mostraram mais significativas para a aprendizagem de
seus alunos . Mas um ponto foi essencial: os professores começaram a fazer algumas modificações , realizaram alguma alteração como “ponta pé” inicial e não ficaram apenas discutindo as dificuldades de se começar. |
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