Atividades pedagógicas - no cotidiano da sala de aula |
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ATIVIDADES PEDAGÓGICAS NO COTIDIANO DA SALA DE AULA UNIVERSITÁRIA - Reflexões e sugestões práticas - Prof.Dr.Marcos T. Masetto Abordar o tema das "Atividades Pedagógicas no cotidiano da sala de aula universitária" nos leva a refletir sobre quatro pontos: a questão da qualidade do ensino de graduação , o conceito de "sala de aula universitária", características do ensino e da aprendizagem universitários e, por fim, que tipos de atividades se podem desenvolver.
É
um tema complexo , mas que se apresenta com grande apelo para os
professores universitários , uma vez que a maior parte de suas atividades
docentes estão girando em torno da sala de aula, e as perguntas mais freqüentes
que ouvimos se referem a " como realizar nossas aulas de um modo
diferente"? I - Sala de Aula Universitária e Qualidade do Ensino de Graduação. Qualidade nos Cursos de Graduação é um dos primeiros objetivos que temos em vista. O nosso trabalho docente que, muitas vezes, pode nos parecer relativamente fácil porque o encaramos como uma oportunidade de comunicar aos outros nossos conhecimentos e experiências , merece séria revisão quando nos damos conta de que hoje a qualidade da formação do profissional exige muito mais de nossos alunos que apenas uma reprodução das informações que ele recebeu em aula. A luta que se vem travando para se elevar o nível de qualidade do ensino de graduação exige que nossos alunos aprendam a reconstruir o conhecimento, descobrir um significado pessoal e próprio para o que está aprendendo, relacionar novas informações com o conhecimento que já possui, com as novas exigências do exercício de sua profissão, com as necessidades atuais da sociedade onde vai trabalhar. Nossos alunos precisarão aprender a iniciação à pesquisa e aos trabalhos científicos, a fazer investigação de caráter básico, a socializar estes conhecimentos, a desenvolver competências e atitudes que lhes permitam analisar e discutir criticamente a ciência e suas soluções para os problemas da humanidade como hoje se apresentam , e a tomar decisões com responsabilidade de profissionais competentes e cidadãos.
Melhoria
em qualidade dos cursos de graduação só podemos esperar quando os
nossos alunos conseguirem assumir o
desenvolvimento de aprendizagens fundamentais
para o profissional de hoje, como as que apresentamos acima. E a
aula universitária pode se tornar uma situação privilegiada disto
acontecer. Condição básica será a de que se modifique completamente o
que se entende hoje por "aula" e o que " se faz"
durante a mesma.
II
- Conceito de sala de aula universitária Tradicionalmente, a sala de aula nos cursos de ensino superior tem se constituído como um espaço físico e um tempo determinado durante o qual o professor transmite conhecimentos e experiências aos seus alunos. Poderíamos dizer que se trata de um tempo e espaço privilegiados para uma ação do professor , cabendo ao aluno atividades como "copiar a matéria" , ouvir as preleções do mestre, fazer perguntas e, no mais das vezes, repetir o que o mestre ensinou. É verdade que temos também as aulas práticas , ora demonstrativas quando o professor assume um papel de mostrar como é o fenômeno , ora de aplicação, por parte dos alunos , de conceitos aprendidos nas aulas teóricas , nos laboratórios ou em estágios. Estas são mais raras. Compreender a aula como espaço e tempo de aprendizagem por parte do aluno modifica completamente este quadro. Com efeito, sala de aula é espaço e tempo durante o qual os sujeitos de um processo de aprendizagem ( professor e alunos ) se encontram para juntos realizarem uma série de ações ( na verdade inter-ações) como, por exemplo, estudar, ler, discutir e debater, ouvir o professor, consultar e trabalhar na biblioteca, redigir trabalhos, participar de conferências de especialistas, entrevistá-los, fazer perguntas , solucionar dúvidas, orientar trabalhos de investigação e pesquisa, desenvolver diferentes formas de expressão e comunicação , realizar oficinas e trabalhos de campo. Este conceito de aula universitária faz com que ela transcenda seu espaço corriqueiro de acontecer : só na universidade. Onde quer que possa haver uma aprendizagem significativa buscando atingir intencionalmente objetivos definidos aí encontramos uma " aula universitária". Assim, tão importante como a sala de aula onde se ministram aulas teóricas na universidade e os laboratórios onde se realizam as aulas práticas , são os demais locais onde , por exemplo, se realizam as atividades profissionais daquele estudante: empresas, fábricas, escolas, posto de saúde, hospital, fórum, escritórios de advocacia e de administração de empresas, casas de detenção, canteiro de obras,plantações, hortas, pomares, instituições públicas e particulares, laboratórios de informática, ambulatórios, bibliotecas, centros de informação , exploração da internet, congressos, seminários, simpósios nacionais e internacionais, pois em todos eles se pode aprender significativamente o exercício competente e cidadão de uma profissão. Além disto, estes "novos" espaços de aula , porque envolvem a realidade profissional do professor e do aluno , são muito mais motivadores para a aprendizagem, muito mais instigantes para o exercício da docência. Trata-se de situações reais que são complexas, exigem integração de teoria e prática , são cheias de imprevistos , exigem inter-relação de disciplinas e especialidades , desenvolvimento de competências e habilidades profissionais , bem como atitudes de ética, política e cidadania.E por esta mesma razão são preferíveis aos espaços tradicionais de aula.
Esta
mudança de conceito de "aula universitária" é fundamental
para melhorarmos a qualidade de formação profissional
de nossos alunos.
III
- Características do ensino e da aprendizagem universitários. A concepção de aula universitária de que falamos , ressalta ainda mais a percepção de que as atividades pedagógicas em aula universitária só adquirem seu pleno sentido quando se reportam aos princípios básicos do ensino e da aprendizagem ; pois, não se trata de modismos ou de mudar por mudar, para ser diferente. Trata-se de buscar atividades pedagógicas que sejam mais eficientes e mais eficazes para colaborar com a aprendizagem de nossos alunos e melhorar a qualidade de nossos cursos de graduação. Vamos, então, recordar algumas características básicas da aprendizagem no ensino universitário. 1. A aprendizagem universitária pressupõe , por parte do aluno , aquisição e domínio de um conjunto de conhecimentos, métodos e técnicas científicas de forma crítica. Iniciativa para buscar informações, relacioná-las, conhecer e analisar várias teorias e autores sobre determinado assunto , compará-las, discutir sua aplicação em situações reais com as possíveis conseqüências para a população, do ponto de vista ambiental, ecológico, social, político e econômico. Faz parte desta aprendizagem adquirir progressiva autonomia na aquisição de conhecimentos ulteriores , desenvolvendo a capacidade de reflexão e a valorização de uma formação continuada , que se inicia já na universidade e se prolongará por toda a vida . Só que esta valorização não se fará com advertências apenas. Exige atividades que permitam ao aluno aprender como se faz efetivamente esta formação continuada. 2. Integrar o processo ensino-aprendizagem com a atividade de pesquisa tanto do aluno como do professor. O aluno começar a se responsabilizar por buscar as informações, aprender a localizá-las, analisá-las, relacionar as novas informações com seus conhecimentos anteriores, dando-lhes significado próprio, redigir conclusões, observar situações de campo e registrá-las, trabalhar com esses dados e procurar chegar a solução de problemas, etc. Dificilmente o aluno incluirá a investigação em seu processo de aprendizagem se o professor também não o fizer em sua atividade de docente : isto é , se o professor não aprender ele também a atualizar seus conhecimentos através de pesquisas, de leituras, de reflexões pessoais, de participação em congressos. Faz parte desta docência com pesquisa escrever artigos e trabalhos que reflitam as reflexões pessoais do professor e suas contribuições para alguns dos assuntos de sua área e permitam uma comunicação em revistas, em capítulos de livros, em trabalhos de congressos , em apostilas que possibilitem um debate e uma crítica de seus pares ou mesmo de seus alunos sobre eles. 3. Toda aprendizagem para que realmente aconteça precisa ser significativa para o aprendiz, isto é, precisa envolvê-lo como pessoa, como um todo : idéias, inteligência, sentimentos, cultura, profissão, sociedade . Este processo exige: a) que a aprendizagem do novo se faça de forma a integrar o universo de conhecimentos, experiências e vivências anteriores dos alunos ; b) que se dê importância a motivar e interessar o aluno pelas novas aprendizagens com uso de estratégias apropriadas. Muitos entendem que este aspecto esteja ultrapassado e que no ensino universitário já não tenha sentido se falar e muito menos se preocupar com a motivação dos alunos , porque já são adultos e a motivação deve partir deles mesmos. Grande engano! Trabalhar com a motivação de aprendizes em qualquer idade e tempo é exigência básica para que a formação continuada possa se efetivar, inclusive conosco mesmos. Só aprendemos coisas novas quando nos apercebemos que elas têm um interesse especial para nós mesmos; c) que incentive a formular perguntas e questões que de algum modo digam respeito ao aprendiz , que lhe interessem; d) que permita ao aprendiz entrar em contato com situações concretas e práticas de sua profissão, e da realidade que o envolve;
e) que o aprendiz assuma o processo de aprendizagem como seu e possa
fazer transferências do que
aprendeu na universidade para outras situações profissionais. 4. A aprendizagem se realiza mais facilmente e com maior compreensão e retenção quando acontece nos vários ambientes profissionais , fora de sala de aula, do que nas aulas tradicionais, porque coloca o aprendiz mais em contato com a realidade. 5. Teoricamente , hoje, há um consenso de que "Aprender a aprender " é o papel mais importante de qualquer Instituição Educacional. O que me parece imprescindível destacar é que " aprender a aprender" é mais do que uma técnica de como se faz . É a capacidade do aprendiz de refletir sobre sua própria experiência de aprender , identificar os procedimentos necessários para aprender, suas melhores opções , suas potencialidades e suas limitações, e , então , a partir daí desenvolver o próprio processo e aprendizagem , no ritmo próprio, de forma contínua , sempre explorando as próprias competências. 6.O aprendiz é o sujeito do processo de aprendizagem. Assim sendo, no ensino universitário levar em conta a real situação do alunado, conhecer suas aspirações , identificar os conhecimentos e carências que possui , convocá-los para serem protagonistas no processo de aprendizagem e parceiros com o professor e com os colegas na busca da formação humana e profissional que se pretende, é fundamental.
Defende-se
a mudança de postura do Professor "Ensinante" para o Professor
"que está com" o aluno para que ele possa aprender ;
mudança do papel de transmissor de informações para o de
mediador pedagógico junto
aos alunos ; mudança do “fazer sozinho” para um trabalho em equipe ,
onde professor e alunos são os agentes/parceiros e corresponsáveis
nas ações de aprendizagem.
IV - Atividades Pedagógicas no cotidiano da sala de aula
universitária. Tendo refletido sobre a importância de se procurar melhorar a qualidade no ensino de graduação de nossas universidades , sobre o atual conceito de aula universitária e alguns princípios básicos do processo de ensino e aprendizagem na universidade, cabe por fim a reflexão que nos aponte para caminhos e recursos que permitam que estes objetivos possam ser alcançados, que passemos de considerações teóricas para ações práticas que criem condições para que a aprendizagem na universidade se faça conforme princípios acima indicados, e o nível de qualidade dos cursos de graduação se eleve. Assim , entendemos que o papel das atividades pedagógicas possa ser o de se apresentar como caminhos e recursos para atingirmos nossos objetivos educacionais. 1. A primeira atividade a ser realizada é o plano da disciplina, uma vez que o processo de ensino-aprendizagem na universidade é intencional e contextualizado, quer dizer, estamos reunidos , professores e alunos, para buscarmos juntos uma formação competente e cidadã em determinada área profissional . Temos objetivos claros a serem atingidos . Precisamos de um plano de ação que nos permita chegar com sucesso ao que se pretende. A forma tradicional de se chegar no primeiro dia de aula e apresentar de forma pronta o plano da disciplina sem discussão, debate e valorização dele, e sem que o plano seja significante para o aluno, poderá ser mudada, a partir do princípio de se procurar envolver o aluno no processo de aprendizagem e procurar despertar seu interesse e motivação pela disciplina desde o primeiro dia de aula. Como? No primeiro encontro com os alunos , iniciar o contato deixando claro que o sucesso daquela disciplina vai depender de um trabalho em equipe entre professor e alunos, um trabalho de parceria e co-responsabilidade e que irá começar naquele mesmo instante , quando , o grupo classe vai se manifestar sobre quais são suas expectativas sobre a disciplina , o que já ouviram falar sobre ela, que comentários de colegas ouviram , o que pensam que vão estudar e para que serve aquela disciplina . Quais nossos objetivos com esta atividade ? Envolver os alunos com a disciplina , criarmos espaços para podermos explicar nossa disciplina e procurar que eles se interessem por ela . Vamos gastar tempo com isto, mas ganharemos depois quando nossos alunos se mostrarem motivados para aprender o que pretendemos que aprendam. Para este primeiro encontro poderemos usar algumas técnicas como a tempestade cerebral , as discussões em pequenos grupos, quando a classe for muito numerosa, o próprio desenho em grupo, quando os pequenos grupos são convidados a colocar em uma cartolina , não usando palavras escritas, mas outras formas de comunicação ( desenho ) suas idéias sobre a disciplina a partir de uma questão relevante que o professor apresente para todos. Em seguida, estes desenhos são apresentados e o professor vai reunindo deles os elementos necessários para sua explicação inicial sobre sua disciplina. Juntamente com os alunos , o professor procurará conversar sobre os objetivos da disciplina , os conteúdos que serão estudados e suas relações com outras disciplinas e com a formação profissional que se pretende , quais as estratégias que serão usadas , qual será a bibliografia, e como será o processo de avaliação , de tal modo que ao final os alunos assumam com o professor que aquele plano de trabalho realmente é interessante para eles e se comprometam em levá-lo para frente.
A
continuidade deste primeiro encontro deverá ser o cumprimento do que foi
combinado no encontro seguinte e nos demais , para que os alunos
entendam que o que se fez no encontro anterior
não foi apenas uma conversa sem conseqüência. A confiança se
conquista a partir daqui. 2. Antoni Zabala em seu livro " A Prática Educativa" ( 1998-pp.58) traz um capítulo intitulado :" As seqüências didáticas e as seqüências de conteúdo" e dentro dele apresenta uma seqüência de aula que me pareceu muito coerente com tudo o que vimos comentando, e por isso, tomo agora a liberdade de resumidamente reproduzi-la aqui. Diz o autor que uma seqüência de aula poderia ser esta: - Apresentação pelo professor de uma situação problemática relacionada com um tema , destacando aspectos importantes e para a qual se procura uma solução científica. - Os alunos, individual ou coletivamente, orientados pelo professor procuram possíveis respostas nos seus conhecimentos, para a situação ou apresentarão dúvidas, perguntas, questões - Indicação de fontes de informação : orientados pelo professor, os alunos propõe fontes de informação mais apropriadas para cada questão e problema levantado: o próprio professor, uma pesquisa bibliográfica, uma experiência, uma observação, uma visita a uma situação real, uma entrevista, um trabalho de campo. - Busca da informação: os alunos individual ou coletivamente, orientados pelo professor realizam a coleta de dados e informações das diferentes fontes indicadas e selecionadas. Selecionam, organizam e classificam o resultado desta coleta de dados. - Resposta para a situação problemática. Juntos os alunos, socializando as informações obtidas, procuram resolver a questão debatendo-a com os colegas, com o professor, aprofundando aspectos teóricos, desenvolvendo a habilidade de aplicação das teorias às situações concretas.
-
Generalização das conclusões e síntese. Com as contribuições
do grupo, o professor faz uma
síntese do problema, das possíveis e diversas soluções e de suas
aplicações. Evidente que este não é o único esquema de aula. Há outros muitos e este mesmo pode
sofrer inúmeras adaptações . O que interessa no momento é que possamos
visualizar uma seqüência de atividades pedagógicas que poderão ocorrer
em aula universitária e que permitem a participação do aluno como
sujeito do processo de aprendizagem, sua parceria com o professor e os
colegas na aula, uma atitude de participação ativa buscando informações,
dando significado a elas, comparando-as com
seu mundo intelectual , que lhe permitem
o desenvolvimento de uma habilidade de integrar teoria e prática ,
encontrar solução para um a situação concreta e aprender atitudes e
valores importantes a serem considerados quando de uma atuação
profissional.
3.Ao
pensarmos em atividades pedagógicas , uma organização de atividades que
vêm imediatamente à nossa mente é aquela que se refere a atividades
pedagógicas que o aluno realiza individualmente e as que
realiza coletivamente. Individualmente são atividades que o aluno realiza pessoalmente, em geral como base ou preparação para atividades pedagógicas coletivas : leituras, levantamento de informações, estudos de autores ou teorias, visitas a campos de trabalho, estágios, estudo de casos, redação de textos, entrevistas. Estas atividades individuais são fundamentais para aprendizagem e para a participação nas atividades coletivas, nas quais a aprendizagem avança sobre o resultado do trabalho individual, mas, que só de fato avançará se a atividade individual for realizada. O que estamos querendo dizer é que atividades pedagógicas coletivas não substituem pura e simplesmente as atividades individuais de aprendizagem , mas também que só a aprendizagem individual é precária quando temos objetivos mais amplos do que apenas adquirir informações e repeti-las. Partir de atividades pedagógicas individuais para atividades pedagógicas coletivas visando os objetivos mais amplos e mais complexos de formação universitária . Dentro de nossas preocupações com o envolvimento dos alunos no seu processo de aprendizagem , ao planejarmos atividades pedagógicas individuais será importante nos determos em alguns aspectos . Por exemplo : - ao fazermos indicações de leituras para próxima aula , cuidarmos de que o tamanho do texto seja possível de ser lido de uma semana para outra, ou de uma aula para outra; e que o texto seja pertinente e atualizado com relação ao tema estudado; - procurar que cada solicitação de leitura seja acompanhada de uma atividade diferente orientada pelo professor que possa motivar o aluno para a leitura e para a atividade que será realizada em aula com o material produzido fora de sala de aula . Assim, posso solicitar que numa semana os alunos leiam um texto e façam dele um resumo; em outra, que leia respondendo algumas questões; numa terceira que leia levantando perguntas ou dúvidas para serem discutidas ou esclarecidas no encontro seguinte ; em outra oportunidade ler identificando argumentos da teoria exposta e apresentando sua reflexão pessoal fundamentada sobre eles; outra vez para tentar resolver um caso; e assim por diante.Deste modo, a atividade de leitura não fica apenas como " uma lição de casa " sem conseqüência, mas uma preparação para as atividades que serão realizadas em aula com o professor e outros colegas ; - este é um ponto importante a se pensar quando se propõe uma leitura fora de classe: que atividade será realizada com a leitura feita e o material produzido e o que farão os alunos que não tiverem realizado a leitura e se preparado para a aula. A resposta me parece clara : ter planejado atividades pedagógicas coletivas que dêem continuidade em aula ao estudo individual , mas que só serão realizadas pelos alunos que tiverem realizado a atividade individual como preparação para elas. Os alunos que não tiverem feito a leitura deverão fazê-lo no primeiro momento de aula , individualmente, e separadamente dos demais , preparando-se para a seqüência das demais atividades. Depois de preparados poderão participar das demais atividades. Os alunos perceberão a importância do trabalho individual para participação no coletivo , o que significa ter respeito ao outro quando de uma participação em grupo , e a própria atividade coletiva deixa de ser um" bate papo entre amigos " , para se tornar uma atividade séria de construção de conhecimento e de aprendizagem;
-
o levantamento de informações para projetos de intervenção
ou de pesquisa supõe
que se tenha muita clareza quanto ao objetivo desses projetos e bem
definidas as fontes onde se fará a coleta de informações, e como elas
serão usadas quando em aula integrando-se ao material coletado pelos
outros colegas . Explicar como se coletam os dados, como se organizam os
dados e como deverão ser comunicados em aula;
-
estudo de teorias ou autores visa um aprofundamento
teórico , e então as atividades individuais deverão preparar o aluno
pra outras atividades em aula que lhe permitam realizar esse
aprofundamento teórico : poderão ser atividades coletivas , em pequenos
grupos de estudo; ou com um
painel integrado pelo qual cada um dos tópicos
escolhidos pelo professor tem seu estudo realizado em primeiro
lugar por um grupo pequeno e ,em seguida , todos os assuntos são
estudados por todos os alunos fazendo-se um cruzamento entre os membros
dos diferentes grupos de tal forma que , em cada novo grupo tenhamos
representantes de todos os outros primeiros grupos, e portanto, de todos
os assuntos discutidos. O aprofundamento poderá ser feito também com um
debate com o professor, ou com um especialista, ou com o professor e
outros professores de outras disciplinas , quando for o caso . Em todas
estas situações entretanto, é fundamental o estudo pessoal para que se
aproveite da oportunidade de aprofundamento teórico e esta atividade não
se transforme apenas em uma aula expositiva na qual o aluno vai ouvir
falar pela primeira vez no assunto;
-
visita a campos de atividades profissionais, estudo de
casos, estágios, entrevistas como atividades pedagógicas individuais
supõem que os alunos tenham clareza quanto aos objetivos da atividade
proposta, e além, disso que se preparem para coletar o material necessário,
organizando um roteiro de observação,e de entrevista, um registro
adequado da observação no campo, e das respostas obtidas se for
entrevista, organização dos dados obtidos e redação desses dados para
sua comunicação aos demais colegas;
-
redação de textos é uma atividade que se propõe
ajudar o aluno a aprender a se comunicar por escrito com outras pessoas
sobre seus conhecimentos e de forma sintética, lógica, coerente, com
argumentação fundamentando suas posições. Isto vai exigir que estes
textos recebam um feedback levando em consideração estes aspectos
e não apenas se o conteúdo está correto ou não.'
-
Prática
clínica, prática didática, atividades em laboratórios , em manequins,
em laboratórios de informática são
outras tantas atividades pedagógicas individuais. Atividades pedagógicas coletivas são profundamente diferentes de atividades Individuais, porque envolvem um grupo de pessoas trabalhando de forma diferente que o indivíduo, com objetivos e regras diferentes , e com resultados esperados também diferentes . Mas porque tanta diferença? Em primeiro lugar , precisamos ter clareza de que qualquer atividade pedagógica coletiva deve trazer contribuições mais significativas e mais avançadas que as produzidas pelo indivíduo isolado . Portanto, um primeiro princípio a ser observado : atividade pedagógica coletiva não é para apenas se justaporem colaborações individuais. Para isto não precisamos dessas atividades. O mínimo que se espera é que um grupo ,além de tomar conhecimento das colaborações dos seus participantes possa discuti-las, analisá-las, e com este debate avance os estudos e questões colocados para resultados que transcendam aqueles já apresentados pelos participantes.
São
exemplos de atividades pedagógicas coletivas : seminário, excursões,
atividades em grupos as mais
diversas como G.O G.V , painel integrado, grupos de
oposição, pequenos grupos de formular questões ou solucionar
casos , projetos. Seminário entendido como atividade que se compõe de dois momentos: o primeiro no qual pequenos grupos realizam uma pesquisas sobre um determinado tema proposto pelo professor , pesquisa esta que é orientada pelo professor ,que deverá seguir todos os passos de uma pesquisa: coletar dados, organizá-los, analisá-los e produzir um trabalho conclusivo com características de um trabalho científico . Mas, observe-se bem: estes procedimentos além de atividades individuais preparatórias, deverão ser realizados coletivamente, de tal forma que se aprenda a pesquisar e produzir conhecimento de forma coletiva. Observe-se que esta pesquisa vai consumir de dois a três meses de trabalho fora de sala de aula , orientado pelo professor , enquanto o plano da disciplina prossegue .O resultado desta pesquisa poderá ser socializado entre os colegas de classe de diversas maneiras : distribuindo-se cópias, fazendo-se apresentações, organizando-se pôster, etc. Mas, para que possamos falar de seminário, há que se realizar o segundo momento: marca-se uma data, na qual se fará uma mesa redonda coordenada pelo professor, sobre um novo tema que não tenha sido diretamente pesquisado por nenhum grupo, mas para cuja discussão todos os grupos de pesquisa dispõe de dados. O professor escolhe de cada grupo de pesquisa um representante que durante a discussão do novo assunto deverá trazer contribuições a partir de seu grupo de pesquisa . Com isso, após a mesa redonda termos um novo tema estudado e debatido a partir de dados de pesquisa , com produção coletiva. Excursões ou visitas a campos de trabalho profissional podem ter seu tempo coletivo na preparação do roteiro de observação pelo grupo, e no debate dos dados obtidos pela excursão ou visita. G.O G.V. ou Grupo de Observação e Grupo de Verbalização: dois círculos concêntricos na sala , um com 5 ou 6 elementos que discutirão um tema por tempo determinado , não maior que 20 minutos e outro maior (o restante do grupo classe) que no primeiro momento observará a discussão e no segundo momento passará a debater, ficando o primeiro como observador do debate. Realizada a primeira discussão que é observada pelo grupo maior, em seguida, este grupo completa, corrige, debate o que foi trabalhado levando a frente a discussão. É o tipo de atividade pedagógica que serve tanto para introduzir um assunto, explorando as experiências pessoais dos alunos, ou seus conhecimentos primeiros sobre um assunto, como para debater um caso ou um assunto sobre o qual já se leu anteriormente. Painel integrado já comentamos anteriormente, quando tratamos do estudo de teorias ou autores. Grupos de oposição : atividade coletiva muito interessante para ajudar os alunos a desenvolver sua habilidade de argumentação e estudo dos fundamentos das teorias . Formam-se grupos que estudem e apresentem argumentos pró e contra determinada teoria ou princípio , debatendo um tema , discutindo um caso , resolvendo uma situação , resolvendo um problema, sempre apresentando argumentos que justifiquem a decisão de cada grupo. Pequenos grupos para formular questões. Divide-se a turma em pequenos grupos de 5 componentes cada um . Tais grupos , num tempo de 10 minutos, elaboram duas ou três questões relevantes para o estudo de um assunto. Cada grupo encaminha suas perguntas a um outro grupo que terá 10 ou 15 minutos no máximo para estudar as questões e respondê-las por escrito. Nos próximos 10 minutos , um segundo grupo estuda as mesmas questões , analisa as respostas do primeiro grupo, corrige o que acha que está errado, completa, amplia as respostas e passa essas perguntas para um próximo grupo, e assim por diante até que pelo menos quatro grupos estudem as perguntas formuladas. Após esse giro, as questões voltam ao grupo que as formulou que deverá analisar as respostas recebidas, dar a sua resposta e encaminhar esta resposta para o plenário . Trata-se de uma atividade coletiva que permite o desenvolvimento de objetivos de conhecimento, de habilidades e de atitudes. Projetos, sem dúvida, uma das mais completas e envolventes atividades pedagógicas coletivas. Elaboração de um projeto sempre está relacionada a uma situação profissional, a uma situação real. O grupo de alunos poderá identificar uma situação problemática, descreve-la, levantar perguntas, fazer o diagnóstico do problema , levantar aspectos teóricos que merecem estudos e aprofundamentos, levantamento dos procedimentos a serem realizados, implementa-los, buscar solução para as questões, enfim resolver o projeto definido.
Trabalhar
com projetos é uma forma muito especial de se desenvolver tanto o ensino
com pesquisa, como se experimentar uma situação de uma equipe de
trabalho profissional que se reúne para desenvolver um projeto em uma
firma ou em uma empresa ou em uma instituição. Tais
situações exigem equipe, exigem o coletivo, exigem saber
trabalhar em grupo, partilhar idéias e sugestões , respeitar idéias dos
outros, colaborar, por vezes, desprender-se de suas próprias idéias em
prol de uma proposta melhor. 4. Outro conjunto de atividades pedagógicas que hoje já começam a fazer parte do cotidiano da sala de aula universitária se refere à mídia eletrônica que no dizer de Moran "é prazerosa - ninguém obriga que ela ocorra; é uma relação feita através da sedução , da emoção, da exploração sensorial....Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades ... educa enquanto estamos entretidos. Imagem, palavra e música integram-se dentro de um contexto comunicacional de forte impacto emocional, que predispõe a aceitar mais facilmente as mensagens." (Moran,2000,pp.33-34) A mídia eletrônica envolvendo o computador, a telemática, a internet, o chat, o e-mail, a lista de discussão, a teleconferência pode colaborar significativamente para tornar o processo e aprendizagem mais eficiente e mais eficaz, mais motivador e mais envolvente. Ela rompe definitivamente com o conceito de espaço "sala de aula" na universidade para afirmar sua existência desde que haja professor e aluno estudando, pesquisando, trocando informações, em qualquer tempo , tendo entre eles apenas um computador. Os recursos eletrônicos facilitam a pesquisa, a construção do conhecimento em conjunto ou em equipe, a intercomunicação entre alunos e entre estes e seus professores. Apresentam um novo modo de se fazer projetos , de simular situações reais, de discutir possíveis resultados ou produtos esperados, de analisar diversas alternativas de solução . Facilitam grandemente o contato com especialistas através de e-mails ou tele-conferências.
Embora
saibamos que estas metodologias estão mais voltadas para encaminhar
problemas de educação à distância , no entanto, elas podem auxiliar
também em nossas aulas presenciais tornando-as ainda mais dinâmicas e
interessantes. 5. Não poderíamos encerrar estas reflexões sobre as atividades pedagógicas em sala de aula universitária sem nos referirmos a uma outra atividade pedagógica que é fundamental desenvolvermos em nossa docência : chama-se avaliação. Com efeito, não entendemos a avaliação como uma atividade que tem por finalidade apenas medir e controlar os resultados de um processo de aprendizagem , verificar o que foi aprendido e fazer um julgamento sobre os resultados. Avaliação para nós é em primeiro lugar a capacidade de se refletir sobre o processo de aprendizagem , buscando informações (feedback) para nossos alunos que os ajudem a perceber o que estão aprendendo, o que está faltando, o que merece ser corrigido, o que é importante ser ampliado ou completado, como ele poderá fazer melhor isto ou aquilo, e em poucas palavras, avaliação é a capacidade de motivar nossos alunos para desenvolverem seu processo de aprendizagem. A avaliação será contínua , a respeito do desempenho do aluno, do professor e adequação do programa. Poderá ser considerada como a grande atividade pedagógica , pois ela acompanha todas as demais atividades , incentiva o aluno a progredir e realizar cada vez melhor as atividades subseqüentes. Por isso tem sentido desenvolver-se a auto-avaliação, quando o próprio aluno aprende a diagnosticar o que aprendeu, quais são suas dificuldades no processo, e quais são suas capacidades que lhe facilitam aprender . Estas percepções o ajudarão por toda a vida.
As
próprias técnicas avaliativas podem servir apenas para medir resultados
de um processo, e então nenhuma contribuição para a aprendizagem podem
trazer. Mas, elas podem ser trabalhadas como verdadeiras situações e
oportunidades de aprendizagem, quando são analisadas pelos alunos, quando
os alunos podem estudar a partir delas , quando o
professor explora todas as possibilidades de aprendizagem que cada
técnica pode oferecer e não apenas se o conteúdo está certo ou errado
. Com cada técnica avaliativa o aluno pode aprender a adquirir
conhecimentos, desenvolver algumas
habilidades e atitudes. Por exemplo, a prova discursiva pode ajudar
o aluno a aprender a fazer síntese, ser lógico, escolher argumentos,
adquirir clareza de redação, assim por diante. Um aprova com consulta
ajuda o aluno a resolver um caso, a escolher as fontes adequadas para
delas retirar informações que lhe faltem. Comentários escritos em relatórios,
resenhas, sínteses, relatórios de grupos oferecem novas oportunidades de
aprender, e assim por diante.
Para
encerrar estas reflexões : partindo de minhas experiências pessoais como
docente e das experiências que conheço de muitos colegas, professores
universitários ,vejo-me na obrigação de fazer um depoimento : sempre
que desenvolvemos atividades pedagógicas com as preocupações de criar
melhores condições para a aprendizagem dos alunos , conseguimos motivar
os alunos para o estudo das disciplinas,
envolvê-los com sua formação profissional e tornar significativo para
eles o curso de graduação ,e como conseqüência elevar o nível de
qualidade do mesmo. A socialização destas mesmas experiências mantém nossa esperança de que outros colegas se sintam motivados a ousar também , a modificar sua ação como docentes e a contribuir para a elevação do nível de qualidade dos cursos de graduação das Universidades: o efeito imediato se fará sentir na formação de profissionais atualizados, competentes e cidadãos. |
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