Na formação de professores, eles devem ser conscientizados do valor da prática do diálogo para uma educação crítica e humanista.

É fundamental que haja a conscientização da prática do diálogo na atuação do professor que deseja participar da educação crítica e humanista, mesmo porque seu trabalho como educador não se esgota no domínio da técnica, já que esta não existe sem os homens e estes não existem fora da história, fora da realidade que devem transformar. 

Uma aula meramente informativa é uma ação antidialógica que reduz os educandos a meros objetos no processo ensino aprendizagem e que cria relações autoritárias entre educador e educando, onde o primeiro é aquele que sabe e o segundo o que não sabe. 

Neste tipo de relação os educandos têm a ilusão que atuam na atuação do educador, que é aquele que diz a palavra que será só escutada por eles. Com esta prática o educador pensa e prescreve sobre os educandos, jamais com eles, além disto, ainda que não consciente, esta prática representa uma conquista e uma manipulação dos educandos pelos educadores. 

É a manipulação que inculca nos educandos a ilusão que atuam, o que impede que eles se tornem sujeitos de sua formação e que conquistem sua autoconfiança que é fundamental para se tornarem seres autônomos. 

“Portanto para o humanismo não há outro caminho senão a dialogicidade. E ser dialógico, para o humanismo verdadeiro, não é dizer-se descomprometidamente dialógico; é vivenciar o diálogo... Ser dialógico é empenhar-se na transformação constante da realidade. O diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos.” [1]  

É comum se justificar a não utilização do diálogo pelos seguintes argumentos: 

·        pela urgência do tempo, dizem claramente  que “é preciso que se façam ‘depósitos’ dos conhecimentos técnicos, já que assim, mais rapidamente, serão capazes de substituir seus comportamentos empíricos, pelas técnicas apropriadas”;

·        como dialogar em torno de assuntos técnicos que os educandos não conhecem? 

“Ao transformar os seus conhecimentos especializados, suas técnicas, em algo estático, e os estender mecanicamente aos educandos, invadindo indiscutivelmente sua cultura, sua visão do mundo, ..., estará negando o homem como um ser de decisão... Relevam, indubitavelmente, uma falsa concepção do como do conhecimento, que aparece como resultado do ato de depositar conteúdos em “consciências ocas”. Quanto mais ativo seja aquele que deposita e mais passivos e dóceis sejam aqueles que recebem os depósitos, mais conhecimento haverá. Parece-nos que tais afirmações expressam ainda uma inegável descrença no homem. Uma subestimação do seu poder de refletir, de sua capacidade de assumir o papel verdadeiro de quem procura saber: o sujeito dessa procura. Daí a preferência por transformá-lo em objeto do “conhecimento” que se lhe impõe. Daí este afã de fazê-lo dócil e paciente recebedor de “comunicados”, que se lhe introjetam, quando o ato de conhecer, de aprender, exige do homem uma postura impaciente, inquieta, indócil. Uma busca que, por ser busca, não pode conciliar-se com uma atitude estática de quem simplesmente se comporta como depositário do saber. Esta descrença sintetiza a crença na absolutização da ignorância do outro. Estes como sujeitos desta definição, necessariamente a si mesmos se classificam como aqueles que sabem.”[2]


[1] Freire, Paulo – Extensão ou comunicação? Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira / prefácio de Jacques Chonchol Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977 – 10a edição.

[2] Ibdem

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