Na formação de professores é fundamental que recorram aos desafios, através da problematizações ou projetos, para a construção do conhecimento.

A postura passiva foi construída na maioria das vezes pela educação que foi imposta aos educandos anteriormente, já que foram “adestrados” para simplesmente reproduzir o que lhe foi depositado e jamais desafiados a irem mais além, isto fez com que criassem o hábito de serem passivos e irresponsáveis por sua formação. 

“Na verdade, nenhum pensador, como nenhum cientista, elaborou seu pensamento ou sistematizou seu saber científico sem ter sido problematizado, desafiado. Embora isso não signifique que todo homem desafiado se torne filósofo ou cientista, significa, sim, que o desafio é fundamental à constituição do saber ... O que defendemos é precisamente isto: se o conhecimento científico e a elaboração do pensamento rigoroso não podem prescindir de sua matriz problematizadora, a apreensão deste conhecimento científico e do rigor deste pensamento filosófico não pode prescindir igualmente da problematização que deve ser feita em torno do próprio saber que o educando deve incorporar. As vezes (sem que isto seja uma afirmação dogmática), temos a impressão de que muitos, entre os que apresentam estas dúvidas, estão “racionalizando” sua descrença no homem concreto e no diálogo, através de “mecanismos de defesa”. No fundo, o que pretendem é continuar sendo dissertadores “bancários” ... Ao diálogo, preferem as dissertações quilométricas, eruditas, cheias de citações. Ao diálogo problematizador preferem o chamado “controle da leitura”..., do que não resulta nenhuma disciplina intelectual, criadora, mas uma submissão do educando ao texto, cuja leitura deve ser controlada. E a isto chamam, às vezes, de avaliação ou dizem que é necessário “obrigar” os jovens a estudar, a saber. Em verdade, não querem correr o risco da problematização, e se refugiam em suas aulas discursivas, retóricas, que funcionam como se fossem “canções de ninar”. Deiletando-se narcisisticamente com o eco de suas “palavras”, adormecem a capacidade de crítica dos educandos. O diálogo e a problematização não adormecem ninguém. Conscientizam. Na dialogicidade, na problematização, educador – educando vão ambos desenvolvendo uma postura crítica da qual resulta a percepção de que este conjunto de saber se encontra na interação. Saber que reflete o mundo e os homens, no mundo e com ele, explicando o mundo, mas sobretudo, tendo de justificar-se na sua transformação. A problematização dialógica supera o velho ‘magister dixit’, em que pretendem esconder-se os que se julgam “proprietários”, “administradores” ou “portadores” do saber. Rejeitar, em qualquer nível, a problematização dialógica é insistir num injustificável pessimismo em relação aos homens e à vida. È cair na prática depositante de um falso saber que, anestesiando o espírito crítico, serve à “domesticação” dos homens e instrumentaliza a invasão cultural.”[1]  


[1] Freire, Paulo – Extensão ou comunicação? Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira / prefácio de Jacques Chonchol Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977 – 10a edição.

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